Estudos indicam que o cérebro humano pesa cerca de 900 gramas. A soma das bactérias boas e ruins no intestino pesa entre 2 e 3 quilos. Em outras palavras, dentro de cada um de nós existe um universo (superpovoado) que está apenas começando a ser explorado. A má notícia é que este universo não está indo muito bem.
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O pesquisador e cardiologista americano William Davis escreveu o livro “Superintestine” (Editora Sextante) no qual afirma que, com o uso abusivo de antibióticos, consumo de agrotóxicos, alimentos cada vez mais ricos em alimentos ultraprocessados, entre outros fatores, as bactérias boas do nosso intestino foram eliminados e substituídos por outros ruins.
“Quando você perde micróbios saudáveis, os não saudáveis podem proliferar, espécies fúngicas ou fecais, por exemplo. Imagino que metade da população dos EUA tenha esses micróbios subindo para o intestino delgado, com espécies não saudáveis. A bactéria vive apenas algumas horas, mas quando morre libera componentes na corrente sanguínea”, explica Davis.
Esta situação em que a população de espécies bacterianas no intestino muda e algumas se movem através do trato digestivo é chamada SIBO (Small Intestinal Bacterial Overgrowth).
Os sinais indicativos do problema são: gotas de gordura no vaso sanitário, intolerância a alimentos com fibras prebióticas (legumes, frutas e verduras, por exemplo), intolerâncias alimentares, condições como síndrome do intestino irritável, fibromialgia, síndrome das pernas inquietas, erupções cutâneas persistentes ou distúrbios recorrentes, hipotireoidismo, doenças neurodegenerativas ou qualquer outra doença autoimune ou inflamatória. O uso de drogas inibidoras de ácido estomacal ou história de cirurgia abdominal também favorece.
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Segundo o médico, essa microflora maligna está por trás de vários problemas de saúde, como doenças autoimunes, gordura no fígado, síndrome do intestino irritável, erupções cutâneas, doenças de Parkinson e Alzheimer, depressão, ansiedade, síndrome das pernas inquietas, obesidade e diabetes. .
— O impacto é tão grande que todas as doenças humanas devem ser reconsideradas à luz das contribuições do microbioma. É revolucionário, muda tudo o que sabíamos. Essa é a parte ruim. A boa notícia é que coisas incríveis acontecem quando você restaura a parte perdida desses bons micróbios.
Testes comuns, como cultura de muco ou urina, geralmente não detectam todos os microrganismos porque apenas uma pequena proporção dos micróbios envolvidos cresce. Então, às vezes as pessoas ficam muito doentes e não respondem aos antibióticos. Um novo aparelho é capaz de medir o gás que essas bactérias liberam, definindo assim em que parte do corpo elas estão.
As bactérias são de longe a classe dominante entre os micróbios que vivem no trato intestinal, mas existe outro grupo capaz de se proliferar como elas e aterrorizar seu corpo: os fungos. O crescimento excessivo de fungos está associado a sintomas muitas vezes semelhantes aos das bactérias, como erupções cutâneas, alergias, doenças autoimunes, desconforto abdominal, inchaço, diarreia, cansaço e alterações de humor.
Para Davis, porém, a maioria dos médicos ainda não conhece a dimensão do impacto do microbioma.
“Sempre que há algo novo e revolucionário, são necessárias décadas para mudar a forma como os médicos pensam. Dizem que “não me ensinaram isso na faculdade” 25 anos atrás. Imagine alguém pegando um celular hoje e dizendo que não me ensinou a usar isso em 1999? É o que acontece com a saúde.
O que fazer
Embora o cenário não seja animador, o médico elaborou um programa, que envolve mudanças na dieta, um novo cardápio e o uso de probióticos para recuperar as bactérias boas.
Além de prevenir doenças, promete melhorias na qualidade da pele, humor, libido, perda de peso, sono e até aumento do QI.
— O Lactobacillus reuteri, por exemplo, estava no leite materno em todo o planeta, mas perdemos, quase ninguém tem mais, porque é muito suscetível a antibióticos. Quando você reabastece, coisas maravilhosas acontecem, porque está presente da boca ao ânus e envia um sinal ao seu cérebro para liberar a oxitocina, o hormônio do amor, da empatia e da generosidade – afirma.
Mas como tudo na vida tem um custo, o primeiro passo desse programa é eliminar o açúcar, alimentos açucarados, adoçantes sintéticos, trigo e grãos de cereais. Além, é claro, de reduzir o uso de medicamentos, cortar alimentos ultraprocessados e dar preferência a produtos orgânicos.
Então é hora de começar com os probióticos (ele criou receitas de iogurtes probióticos, veja uma abaixo), comer pelo menos um alimento fermentado. E invista mais em alimentos ricos em fibras prebióticas, como vegetais, frutas, sementes de chia e linhaça, oleaginosas e cogumelos.
— Os órgãos de saúde dizem para reduzir a gordura e comer mais grãos integrais. É um conselho ridículo, considerando como os humanos evoluíram. Não somos vacas, cabras, cavalos que podem comer sementes de capim. Não temos o equipamento necessário. Mas é como o sistema controla a dieta — diz o cardiologista, que defende uma dieta rica em gorduras como carne, miúdos, manteiga, leite integral, azeite e abacate.
Estudos em andamento
O cardiologista e nutricionista Daniel Magnoni, presidente do Instituto de Metabolismo e Nutrição, considera que a noção de microbiota doente ainda é nova e carece de maior avaliação científica.
— Esse conceito é muito recente e quando é recente há verdade verdadeira, verdade relativa e fake news. Mas muitos estudos estão sendo feitos sobre bactérias intestinais. Alguns com perfil de absorção decrescente de glicose ou colesterol, outros com ação relacionada à proteção da mucosa intestinal fazendo com que ela cresça mais e protegendo do câncer. As pessoas começam a falar em probióticos, mas isso ainda é muito empírico”, diz.
Magnoni considera o uso de probióticos um bom complemento para viajantes, pessoas submetidas a tratamentos médicos, como quimioterapia, ou que seguiram uma dieta muito rigorosa, por exemplo.
Mais do que isso, o médico recomenda uma alimentação rica em fibras solúveis, que servem de combustível para as bactérias boas:
— Tomar probióticos e não comer fibra é inútil. Se você só tomar probiótico e comer churrasco com farinha, não vai resolver.
Magnoni recomenda cinco porções do reino vegetal por dia. Por exemplo: uma fruta é uma porção, um prato de salada outro, um acompanhamento de legumes, outro. O consumo de iogurtes, mesmo de supermercado, cinco vezes por semana também ajuda a manter a microflora intestinal mais equilibrada.
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