A Pfizer não testou a transmissão. E teve que testar? E o certificado digital?

Marco Verch / Flickr

Vacina anti-covid da Pfizer

Críticas (e insultos) se repetiram nos últimos dias, após uma audiência em Bruxelas. Várias perguntas foram levantadas – mas há respostas.

Os protestos se acumularam em vários países, principalmente na Europa, após declarações de Janine Small.

Janine é presidente de mercados internacionais para Pfizer e, por ausência do administrador executivo Albert Bourla, representou a empresa em audiência no Parlamento EuropeuSemana Anterior.

Rob Roos, eurodeputado dos Países Baixos em Bruxelas, perguntou ao responsável se, antes de começar a ser vendido, o Pfizer testou sua vacina anti-covid, em relação à transmissão do vírus.

Não. Tivemos que nos mover na velocidade da ciência para realmente entender o que estava acontecendo no mercado. E desse ponto de vista, tínhamos que fazer tudo com risco”, respondeu Janine Small.

Protestos e críticas se multiplicaram, entre especialistas e “anônimos”, principalmente na Europa. as perguntas são repetidas “Então a vacina não deveria proteger os outros?”ou “E mandam vacina para o exterior sem testar a transmissão do vírus?”.

Testar o quê?

Vamos deixar respostas. A partir desta última pergunta, com a ajuda da agência Reuters.

Nesse cenário de emergência, e para obter uma aprovação emergência, o contexto era o seguinte: antes de a vacina ser aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos, uma empresa precisa testar – com evidências científicas, com estudos – de que a vacina é garantir é aquele impede que as pessoas fiquem gravemente doentes (na grande maioria dos casos).

Ou seja, não, uma vacina não teve que ser testada para propagação do vírus. A farmacêutica não precisou mostrar que a vacina impedia a transmissão do vírus para outras pessoas.

No final de 2020, a Agência Europeia de Medicamentos publicou um documento sobre a vacina Comirnaty. E, sobre a possível redução da transmissão do coronavírus, alertou: “O impacto em relação à disseminação do SARS-CoV-2 na comunidade ainda é um mistério. Ainda não se sabe quanto as pessoas vacinadas podem carregar e espalhar o vírus.”

Além disso, lembre-se do Imprensa associadauma Pfizer nunca anunciou que tinha conseguido estudos sobre a transmissão da doença, antes de a vacina ser colocada à venda.

Embora, aqui, essa indicação contraste comum comunicado da própria Pfizer em 2021, que anunciou que a vacina era “100% eficaz na prevenção de casos de COVID-19 na África do Sul, onde a variante B.1.351 era prevalente″.

Meses depois, com a vacina já no mercado e com milhões de pessoas vacinadas, vários estudos em vários países mostraram que a vacinados (Pfizer) transmitiam menos variantes do coronavírus nesta fase.

O que mudou esse cenário foi a variante Omicron, que passou a “suavizar” os efeitos da vacina – que era realmente eficaz contra as variantes conhecidas até então. A vacina continuou a ser eficaz contra a Omicron, mas menos eficaz.

E o certificado digital?

Por aqui, em bom português, temos lido perguntas como “Então para que servia o certificado digital? Eu, sem estar vacinado, fui proibido de entrar em tantos lugares – não foi para proteger os outros?“.

Primeiro, repetindo a ideia que já é de conhecimento comum há muito tempo: a prioridade da vacina, a vantagem mais importante da vacina, era evitar consequências graves para a saúde da pessoa vacinada. Não era para evitar o contágio, nem para os outros, nem para a própria pessoa.

Então, a ideia – classificada por muitos como “propaganda” ou mentira” – de que estamos protegendo os outros tem três outras justificativas.

Ainda relacionado à maior vantagem da vacina citada acima, explica-se: quanto mais leve uma doença, menor a probabilidade de ser transmitida do mesmo. Temos menos partículas virais no corpo, ou seja, temos menos partículas para infectar outras pessoas. Menos sintomas, menos chance de transmissão. É aí que entra a vacina/certificado “protegendo os outros”.

Uma pessoa vacinada era, na maioria dos casos, uma pessoa que não precisava ir ao hospital. Mesmo que ela tenha se infectado. Multiplicando-se pelos milhares ou milhões de pessoas que ficaram em casa por apresentarem sintomas leves, serviços de saúde começou a ser menos sobrecarregado. Havia mais espaço e mais disponibilidade dos profissionais para cuidar dos “outros”.

O controle também foi feito de outra forma. Uma pessoa sem certificado foi proibida de entrar em vários espaços públicos. Assim, só entravam nestes espaços públicos quem tinha certificado, quem estava vacinado. Ou seja, menos pessoas em um espaço, menos probabilidade de contágio.

Como eu disse Emmanuel Macron, início de 2022: “Não quero irritar os franceses. Mas os não vacinados, eu realmente quero incomodá-los. E vamos continuar fazendo isso, até o fim. Essa é a estratégia”.

Essa (também) foi a estratégia do certificado digital: tornar a vida mais inconveniente para quem não foi vacinado.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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