
Nesta segunda-feira (24) é comemorado o dia mundial de combate à poliomielite, doença erradicada no Brasil desde 1994, ano em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o país livre desse vírus. No entanto, um fato é preocupante: até a manhã da última quinta-feira (20) o Espírito Santo vacinou cerca de 139 mil crianças, o equivalente a apenas 61% do público.
A meta a ser alcançada é que pelo menos 227.010 crianças estejam com a vacinação contra a Poliomielite em dia. Um ano foi a faixa etária que mais atendeu: 36.976 crianças dessa idade foram vacinadas.
A poliomielite é uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus, que pode infectar crianças e adultos pela via fecal-oral (através do contato direto com fezes ou secreções expelidas pela boca de pessoas infectadas). A doença pode ou não causar paralisia infantil, onde os membros inferiores são os mais acometidos.
O Ministério da Saúde reforça que a vacinação é a única forma de prevenir a poliomielite. Todas as crianças menores de 5 anos devem ser imunizadas de acordo com o calendário de vacinação de rotina e também por meio de campanhas anuais. O esquema vacinal consiste em três doses da vacina injetável (aos 2, 4 e 6 meses de idade) e duas doses de reforço com a vacina oral bivalente, conhecida como gotícula.
Diante da queda das coberturas vacinais, o Ministério da Saúde vem realizando a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite, iniciada em 8 de agosto. A campanha teve que ser estendida por causa da baixa adesão. A meta é vacinar 95% das crianças menores de 5 anos.
O gerente da Vigilância Sanitária, Orlei Cardoso, diz que o Estado já está em sua terceira prorrogação da campanha e acredita que um dos motivos da queda na adesão das famílias são as fake news.
“Seguimos a orientação do Ministério da Saúde. Estamos colocando nossas equipes em campo e trabalhando no papel do Estado, que é distribuir as vacinas o mais rápido possível para todas as regiões. Mas notamos que o nó crítico é essa questão das informações falsas, as chamadas fake news, que chegam mais rápido do que as informações sobre a importância da vacina. Mas não vamos desistir.”
intertítulo grandes riscos
Orlei destaca ainda que o estado não tem nenhum caso de Poliomielite desde 1987, mas que corre grande risco se não conseguirmos manter a cobertura vacinal acima de 95%. Ele também diz que desde 2016 a adesão às vacinas diminuiu, mas nos últimos dois anos o déficit foi maior.
“Até 2016, a cobertura era facilmente alcançada. Em um dia D, até 70% do público foi alcançado. A partir de 2016 começamos a sofrer quedas, mas ainda atingimos números superiores a 90%. Mas os últimos dois anos tornaram nossa cobertura vacinal um pouco mais difícil, em relação a todas as vacinas, não apenas à poliomielite”, disse ele.
Para a professora e epidemiologista que integra a assessoria técnica do Plano Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, é fundamental conseguir manter uma alta cobertura vacinal, chamada imunidade de rebanho, para que mesmo com a entrada ou circulação do poliovírus é possível impedir a introdução da doença.
“Ainda não temos transmissão do vírus no Brasil, mas temos condições para que isso aconteça. Quais são essas condições? Baixa cobertura vacinal. Então, temos muitas pessoas suscetíveis a desenvolver a doença em caso de introdução do vírus”, diz o epidemiologista.
Reintrodução da paralisia infantil
A taxa de crianças vacinadas contra a poliomielite vem diminuindo ano a ano. A última vez que o Brasil conseguiu ultrapassar a meta de 95% de vacinados, considerada ideal, foi em 2015. No ano passado (2021), o percentual foi de apenas 69%.
“Por esse motivo, o Ministério da Saúde realizou uma campanha de vacinação, cujo objetivo principal era regularizar o calendário de vacinação das crianças que não tomaram a dose contra a poliomielite no prazo. No entanto, a campanha não teve a adesão esperada, atingindo apenas metade das crianças. Essa situação exemplifica o grande desafio que temos enfrentado, já que vários países da Europa e da África estão registrando surtos do vírus da poliomielite, causador da doença conhecida como paralisia infantil”, destaca Antônio Condino-Neto, presidente do Departamento de Imunologia da Sociedade. Sociedade Brasileira de Pediatria e Coordenador do Laboratório de Imunologia Humana do ICB-USP.
Ela afirma ainda que a baixa cobertura vacinal entre as crianças pode ser responsável pela reintrodução da paralisia infantil em nosso país e que esse cenário se estende a outras doenças praticamente eliminadas, mas que têm grande chance de retornar em um futuro muito próximo, caso a situação ocorra. não mude. Estes são tétano, difteria e tuberculose.
Orlei Cardoso destaca que alguns municípios do Espírito Santo têm buscado ativamente essas crianças, indo a bairros menores onde não há postos de vacinação e às escolas municipais, mas a adesão não tem sido satisfatória. “Às vezes você tem adesão muito baixa porque o problema está na raiz, na autorização da vacina. Os municípios levam as vacinas às escolas e nem todos os pais assinam a liberação. Então, na maioria das vezes, o pai que não leva a criança ao posto de saúde para vacinar, também não autoriza a vacina na escola”.
Dia D contra a poliomielite
No dia 22, para atingir a meta de crianças vacinadas, a Secretaria de Saúde do Espírito Santo realizará mais um Dia D, onde pais ou responsáveis de crianças menores de cinco anos que não puderem levar seus filhos para vacinar em dias de semana terão a oportunidade no sábado aproveitar a imunização.
As salas de vacinação em todos os municípios capixabas estarão abertas das 8h às 17h, para receber as crianças que estão imunizadas contra a poliomielite em atraso.
“A situação do Espírito Santo não é diferente da situação do Brasil. Temos pouco mais de 60% de cobertura vacinal e nossa meta é 95%. Então precisamos de um esforço maior para completar esse calendário vacinal, atingir a meta e deixar nossas crianças mais seguras, já que essa doença não tem cura e não tem tratamento, só existe vacina para prevenir”, finaliza Ethel.
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