por Antonio Condino Neto
Desde o surgimento da pandemia de Covid-19 no ano de 2020, as vacinas tornaram-se um dos assuntos mais comentados do mundo. Isso se deve ao fato de que a vacinação foi essencial para o controle da doença, que matou milhares de pessoas ao longo de vários dias. O objetivo era imunizar a populaçãopara que os sintomas fossem mais leves caso contraíssem coronavírus, além de tentar criar cobertura vacinal e evitar o contágio de um indivíduo para o outro.
Diante do cenário de lockdown e quarentena, laboratórios em diversos países entraram em uma corrida para produzir vacinas que foram eficazes o suficiente para aplicação. Foram meses de testes, mas em janeiro de 2021 começou a vacinação no Brasil. As vacinas que chegaram foram submetidas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)que aprovou Coranavac (Butantan), Comirnaty (Pfizer/Wyeth), Janssen Vaccine (Janssen-Cilag) e Oxford/Covishield (Fiocruz e Astrazeneca).
Embora a campanha de vacinação seja fortemente incentivada pela imprensa, autoridades, celebridades e personalidades acadêmicas e científicas, muitos brasileiros se recusaram a tomar as vacinas aprovadas, alegando não confiar em sua eficácia e que poderiam adoecer. Essa onda de desconfiança em relação às vacinas não é nova, porém houve um aumento significativo durante a pandemia, estendendo-se também às vacinas contra outras doenças.
De acordo com levantamento do IBOPE Intelligence em agosto de 2020, três em cada dez crianças brasileiras não foram imunizadas contra doenças potencialmente fatais, e desde 2015 houve queda na cobertura vacinal entre crianças menores de 5 anos. Conforme mencionei, a situação se agravou com a pandemia. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a imunização contra sarampo, caxumba e rubéola foi de 93,1% em 2019. Em 2021, os números caíram para 71,5%.
Recentemente, o Dr. Drauzio Varella demonstrou grande preocupação diante deste cenário e fez um alerta à população brasileira em matéria publicada no Fantástico, em que mostrava a queda no número de vacinações. O principal exemplo citado no artigo em questão foi a queda no índice de crianças vacinadas contra a poliomielite, que vem diminuindo ano após ano. A última vez que o Brasil conseguiu ultrapassar a meta de 95% de vacinados, considerada ideal, foi em 2015. No ano passado (2021), o percentual foi de apenas 69%.
Por esse motivo, o Ministério da Saúde realizaram uma campanha de vacinação, cujo objetivo principal era regularizar o calendário vacinal das crianças que não tomavam a dose contra a poliomielite em tempo hábil. No entanto, a campanha não teve a adesão esperada, atingindo apenas metade das crianças. Essa situação exemplifica o grande desafio que temos enfrentado, pois vários países da Europa e da África estão registrando surtos do vírus da poliomielite, causador da doença conhecida como paralisia infantil.
A poliomielite foi erradicada no Brasil em 1994, e a certificação foi concedida pelo Organização Mundial da Saúde (OMS). Por outro lado, o baixa cobertura vacinal entre as crianças pode ser responsável por reintroduzir a paralisia infantil em nosso país. Esse cenário se estende a outras doenças que já foram praticamente eliminadas, mas que têm grandes chances de retornar em um futuro muito próximo, caso a situação não se altere. Estes são tétano, difteria e tuberculose.
Diante disso, é fundamental que haja uma conscientização da sociedade sobre a grande importância das vacinas fornecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que pode salvar vidas e evitar que crianças desenvolvam doenças graves. Além deste mês de outubro, em que comemoramos a Dia Nacional da Vacinação, Busquemos conscientizar sobre a importância das vacinas para a erradicação e redução de doenças que têm causado tantos malefícios não só a nós brasileiros, mas ao mundo inteiro.
Pais e responsáveis precisam levar seus filhos de volta para serem vacinados, cumprindo o calendário vacinal estipulado pelo Ministério da Saúde, incluindo doses de reforço. Afinal, vacinar-se não é uma questão individual. É necessária uma repercussão coletiva, levando ao estado de imunidade de rebanho, protegendo toda a comunidade, inclusive os imunocomprometidos, em que as vacinas podem não resultar na eficácia esperada. Só assim podemos garantir uma cobertura vacinal eficiente e aumentar nosso leque de doenças erradicadas.
Sobre o autor: Antonio Condino-Neto é médico e pesquisador, sócio-fundador da Immunogenic. Pós-doutorado em Medicina molecular na Universidade de Massachusetts, PhD em Farmacologia pelo ICB-USP e Livre Docente pela UNICAMP. É membro do Comitê de Erros Inatos da Imunidade (EII) da Academia Americana de Asma Alergia e Imunologia.
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