Avanço nos casos e óbitos por meningite levanta alerta no Estado de São Paulo – 10/07/2022

A décima morte por meningite confirmado nesta terça-feira, na capital, e o aumento de casos em cidades do interior paulista acendeu o alerta. Especialistas estimam que a queda na cobertura vacinal durante a pandemia de covid-19 deixou o estado mais vulnerável à transmissão da meningite. Eles acreditam que o cenário pode piorar e recomendam rigor no bloqueio de casos para evitar o risco de epidemia.

A meningite é uma inflamação das meninges, as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. A doença, que pode ser causada por vírus e bactérias, é grave e tem transmissão respiratória.

Entre os sintomas mais comuns estão dores de cabeça e pescoço, febre, vômitos, confusão mental e manchas na pele. Durante a pandemia, as medidas preventivas contra a covid-19 diminuíram os casos, mas agora, com a maior circulação de pessoas, a doença voltou.

Na capital, a morte desta semana foi de um rapaz de 22 anos que morava na zona norte, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Uma jovem de 20 anos do sul também adoeceu – ambos os casos eram de doença meningocócica. De acordo com a pasta, somente após o resultado da análise laboratorial, que deve sair em cinco dias, será possível saber o tipo de bactéria e se os dois casos são do mesmo sorogrupo. Ainda segundo a SMS, os casos são isolados e não caracterizam novos focos, não tendo relação com o foco localizado, no momento, nos distritos de Vila Formosa e Aricanduva, onde foram registrados cinco casos de meningococo tipo C, no período. de 16 meses. de julho a 15 de setembro, com um óbito. O ministério considera surto quando há três ou mais casos do mesmo tipo em um período de 90 dias no mesmo local.

Com os novos casos, a capital tem 58 registros confirmados de meningite meningocócica desde o início deste ano. De janeiro a setembro de 2019, período anterior à pandemia, foram 158 casos, ou seja, houve redução de 68% no âmbito geral. O número de óbitos também é menor, segundo o ministério: foram 10 este ano, ante 28 entre janeiro e setembro de 2019.

A secretaria prevê a vacinação de adultos apenas em situações excepcionais, como o surto que ocorre nas regiões de Vila Formosa e Aricanduva. A exceção são os profissionais de saúde que podem ser vacinados por meio de comprovante de vínculo empregatício em serviço de saúde da cidade de São Paulo ou comprovante de profissão, como certificado e diploma.

Outras cidades

No interior de São Paulo, já existem dezenas de cidades com casos. Em Marília, no Centro-Oeste, foram quatro mortes pela doença este ano. A última morte ocorreu em julho.

Ontem, um bebê estava internado no Hospital Unimed, em Sorocaba, com diagnóstico de meningite bacteriana. A família usou as redes sociais para pedir orações. Segundo a prefeitura, a cidade já teve 39 casos e 5 mortes neste ano. Houve três ações isoladas de bloqueio de contato.

Em Jundiaí, as visitas aos presos no Pavilhão VII do Centro de Detenção Provisória (CDP) estão suspensas neste próximo final de semana devido a um caso de meningite bacteriana que afetou um detento. De acordo com o Departamento de Administração Penitenciária (SAP), o paciente está em tratamento médico e todas as medidas de monitoramento e desinfecção foram tomadas.

Na região Norte, pelo menos seis cidades já registraram casos de meningite este ano. Araraquara (6 casos), Leme (6), Pirassununga (5), Porto Ferreira (3) e Nova Europa (1) tiveram casos bacterianos. Em Araras, os seis casos confirmados são do tipo viral.

Outros estados

Outros estados também estão experimentando um aumento nos casos de meningite. Na Bahia, já foram registrados 105 casos e 43 óbitos pela doença. O número de mortes é 50% maior do que as 21 mortes do ano passado.

No Espírito Santo, foram confirmados 158 casos e 41 óbitos por meningites de diversos tipos. No ano passado, foram apenas 83 casos e 19 mortes. O Ministério da Saúde do estado atribui o crescimento à queda na taxa de vacinação.

No Rio de Janeiro, 28 casos foram registrados até o final de agosto e sete pessoas morreram de meningite meningocócica. Existe o risco de agravamento do cenário, pois apenas 60% dos bebês são vacinados.

Em Minas, o número de casos e óbitos este ano já supera todo o ano passado. Em 2021, foram 459 casos e 51 óbitos em todo o ano, enquanto este ano, de janeiro a setembro, são 468 casos e 71 óbitos.

Em Pernambuco, já são oito casos confirmados da doença meningocócica este ano, mas nenhuma morte. Até agora, apenas 52% das crianças até 1 ano foram imunizadas.

O Ministério da Saúde informou que, em 2022, até 30 de setembro, foram registrados 5.821 casos e 702 óbitos por meningite de diversas etiologias. “A vacinação é considerada a forma mais eficaz de prevenir a meningite bacteriana, e as vacinas são específicas para determinados agentes etiológicos”, disse. De acordo com a pasta, a vacinação dos grupos prioritários está mantida, segundo o Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Em São Paulo, por exemplo, o calendário vacinal de rotina continua em vigor na capital e no interior paulista, com a aplicação do imunizante contra a meningite meningocócica C em bebês de 3, 5 e 12 meses. O teste de meningite ACWY é aplicado na faixa etária de 11 a 14 anos, de forma excepcional, até junho de 2023, conforme definido pelo PNI.

cenário de risco

A situação é arriscada, segundo a infectologista Rosana Ritchmann, referência em doenças infecciosas. “É uma doença causada por uma bactéria transmitida por gotículas respiratórias, atingindo uma população não vacinada e indiretamente desprotegida, pois se, de fato, tivéssemos vacinado crianças e adolescentes, conforme previsto no Programa Nacional de Imunizações, a circulação da bactéria seria pessoas muito menores e até mesmo não vacinadas estariam melhor protegidas.”

Para ela, os casos que estão surgindo em São Paulo ainda são reflexo indireto e tardio da covid-19. “A pandemia fez a população hesitar em tomar a vacina e, quando voltamos às atividades normais, sem uso de máscara, infelizmente há risco de maior circulação da bactéria pela falta de vacinação da população-alvo da campanha. . Tem risco de se tornar mais grave e devemos bloquear todos os casos notificados, que é a quimioprofilaxia dos contatos e bloquear a vacinação, independentemente da idade”.

Por outro lado, o infectologista Carlos Magno Fortaleza, professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, não vê risco de uma grande epidemia de meningite, semelhante ao que aconteceu na década de 1970.

“O que temos que fazer é intensificar a vacinação nesses grupos que estão na campanha nacional, inclusive aqueles com HIV e imunossuprimidos, e bloquear bem os casos. Cada morte evitada é uma vitória”, disse. “O grupo que foi imunizado quando a vacina foi introduzida no calendário infantil está crescendo protegido, mas temos grupos mais velhos que nunca tomaram a vacina”. não pode ser o único motivo, a baixa cobertura pode estar contribuindo para mais transmissão.

Ações

Tanto ele quanto Rosana Rithcmann concordam que ainda não é necessário expandir a vacinação para outros grupos. “Não há contraindicação para vacinarmos a população em geral, mas a medida racional em termos de uso de nossos recursos é o bloqueio da vacinação e o uso de quimioprofilaxia para contatos”.

Marco Aurélio Safadi, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBI) considera importante aumentar a cobertura vacinal dos adolescentes. “Eles são os principais vetores de transmissão na comunidade. Se conseguirmos vacinar pelo menos 80%, estamos protegendo também os adultos”, disse. “É importante estar atento aos surtos, aplicar antibióticos aos que estão em contato e bloquear a vacinação para as faixas etárias afetadas”.

A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.

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