Cenário da Covid-19 no mundo é pior do que a pandemia de gripe espanhola

Mais de 100 anos após a gripe espanhola, o mundo enfrenta uma nova pandemia mortal, que colocou à prova o conhecimento científico e mostrou o quanto as fake news e o negacionismo da população e dos governos podem prejudicar a saúde pública.

Para a infectologista Mariana Croda, a falta de uma política única de combate ao vírus no Brasil se tornou um dos principais impulsionadores da disseminação da Covid-19.

Segundo o especialista, os vírus respiratórios são velhos conhecidos dos humanos e talvez por isso não causem tanto medo quanto deveriam.

No caso da pandemia de gripe espanhola, em 1918, e da gripe H1N1, também conhecida como gripe suína, ocorrida em 2009, foram causadas por vírus da família Influenza. Mesmo com tantas mortes pelo caminho e com apenas uma forma de combate – as vacinas –, parece que a população perdeu o medo das doenças.

“Estamos entrando em um momento de negação da única solução, que é a vacina, então estamos muito pior agora”, enfatiza Mariana Croda.

mortes

A gripe espanhola foi responsável por cerca de 500 milhões de infecções em todo o mundo. No Brasil, o número de casos chegou a 19,5 milhões, o que na época representava 65% da população nacional, que era de 30 milhões de pessoas.

Em relação às mortes, as estimativas mundiais da época indicam que a gripe espanhola foi responsável pela morte de 20 a 40 milhões de pessoas, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e no Brasil esse número era de 35 mil, entre eles o então presidente eleito, Rodrigues Alves, que acabou não tomando posse.

Superando esse número, em nove meses mais de 189 mil brasileiros perderam a vida em decorrência do novo coronavírus e, com o aumento do número de casos diários e o aumento das internações, os sinais indicam que a tendência é que o número aumente.

“Nenhum medicamento até hoje foi capaz de mudar o curso da doença. Entre as formas graves, os medicamentos que temos alteram muito pouco a forma da infecção”, enfatiza.

Conforme explicou o infectologista, as dificuldades de saúde enfrentadas anteriormente devem servir de espelho para a forma correta de lidar com a situação atual. Porém, além de buscar medicamentos e vacinas para tratamento, a ciência precisa combater as fake news, notícias falsas que deslegitimam a ciência.

“O governo brasileiro é o maior propagador de fake news, porque quando chega e diz que não precisamos de vacina, e que há tratamento precoce, quem é a luz da ciência não pode ter argumento para tratar isso como inaceitável. ”, diz Croda. .

Vacina

A vacina contra a gripe surgiu em agosto de 2010, um ano e seis meses após o início da epidemia de gripe suína no Brasil. Um subtipo do vírus H1N1 foi incorporado ao imunizador, para que pudesse combater a infecção e as aplicações das doses são anuais.

O objetivo dos cientistas é alcançar uma nova vacina capaz de detectar e reagir à presença do vírus Sars-Cov-2, responsável pela doença Covid-19.

Até a chegada da vacina, a média móvel de casos da doença continua crescendo em vários países, como Reino Unido e Alemanha, que inclusive decretaram lockdown, ou seja, o fechamento de todos os serviços não essenciais.

No Brasil e Mato Grosso do Sul, os números continuam crescendo. O estado vive a pior fase da pandemia, com hospitais lotados e número recorde de óbitos.

Por enquanto, a prevenção é com o uso de máscara cobrindo nariz e boca, a higienização frequente das mãos e o distanciamento social, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é a única forma de evitar a propagação da doença.

EUA

UMA gripe espanhola teve seu primeiro caso registrado em fevereiro de 1918, nos arredores do Texas, nos Estados Unidos, quando um soldado da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) apresentou sintomas de uma forte gripe e, na mesma semana, acabou infectando outro 200 pessoas no acampamento. .

Segundo a Fiocruz, a gripe aconteceu em duas ondas, na primeira, embora bastante contagiosa, foi uma doença leve e não causou mais de três dias de febre e mal-estar. Na segunda onda, em agosto, quando atingiu o hemisfério sul, tornou-se mortal.

Em setembro de 1918, o navio Demerara, vindo de Lisboa, desembarcou o vírus no Brasil. Soldados doentes desembarcaram em Recife, Salvador e Rio de Janeiro, então capital federal. Assim como na história recente do país, na época as autoridades também desacreditaram o perigo da doença. Acreditava-se que o vírus não seria capaz de atravessar um oceano.

Um século após o fim da gripe, a evolução da ciência, a globalização e os novos conhecimentos não foram suficientes para travar o contágio da Covid-19.

A nova pandemia teve seu primeiro caso registrado em dezembro do ano passado, na cidade de Wuhan, na China. Desde então, a média global ultrapassa 75 milhões de pessoas infectadas e está em quase 1.700 milhões de mortes.

No Brasil, o estado de emergência em saúde pública foi decretado pelo Governo Federal em 3 de fevereiro deste ano.

Nos meses mais críticos da pandemia, houve uma intensa mobilização para que, como em 1918, fossem abertos hospitais de campanha, auxiliando no tratamento da gripe.

Na época, o especialista em saúde pública Carlos Chagas assumiu a direção da Fiocruz e implantou, além de cinco hospitais de campanha, 27 postos de atendimento à população. Este ano, o esforço teve que competir com a proporção habitacional, foram abertos 79 hospitais de campanha.

Além das grandes unidades, alguns pontos do país também tiveram que recorrer a esforços extras, como no Mato Grosso do Sul, que manteve o Centro de Atendimento aos Casos de Coronavírus ativo por seis meses. A estrutura ocupou parte do Parque Olímpico Ayrton Senna e recebeu pacientes com suspeita da doença para diagnóstico e orientação.

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