Historicamente, as áreas costeiras sempre estiveram entre os locais prioritários para a ocupação humana. Tal cenário está atrelado aos benefícios de estar próximo a ambientes costeiros e oceânicos, que possuem grande potencial de fornecimento de alimentos, energia, regulação climática, beleza cênica, entre outros serviços ecossistêmicos.
As referências listadas a seguir fornecem definições e conceitos, além de abordar mecanismos que permitem a compreensão dos múltiplos bens e benefícios que a sociedade pode obter dos ambientes costeiros e oceânicos. Vale ressaltar que esta não é uma lista exaustiva, por isso recomendo fortemente que você mantenha seu radar ligado para novas referências que vêm surgindo o tempo todo nos últimos anos.
Bens e serviços ecológicos dos ecossistemas de recifes de coral
Fredrik Moberg, Carl Folke (Economia Ecológica, 1999)
Esta publicação inicia a lista de bibliografia básica como um dos primeiros levantamentos abrangentes dos bens e serviços gerados pelos ecossistemas de recifes de coral. Os autores categorizaram os bens como recursos renováveis e mineração de recifes, enquanto os serviços ecológicos (termo utilizado pelos autores) foram divididos nos seguintes tipos de serviços: (1) físico estrutural, (2) biótico, (3) biogeoquímico, (4) informação e (5) sociais/culturais.
Este é um estudo que discute a relação entre os serviços ecossistêmicos prestados e os diferentes grupos bióticos existentes em diferentes ecossistemas recifais ao redor do mundo, considerando quatro tipos de recifes de corais (plataformas, franjas, barreiras e atóis). Um dos pontos interessantes apresentados é a conexão entre os benefícios proporcionados pelos manguezais, prados de ervas marinhas e recifes de coral. Além disso, o estudo apresenta uma revisão de estudos sobre a valorização econômica de recifes de coral, destacando lacunas de conhecimento e direcionando pesquisas futuras.
Além disso, o estudo contribui ao discutir como os impactos humanos nos ecossistemas recifais podem comprometer o acesso a bens e serviços fornecidos pelos recifes de corais. Assim, este artigo é um bom ponto de partida para compreender os benefícios associados a estes ecossistemas.
Fronteiras na pesquisa de bem-estar costeiro e serviços ecossistêmicos: uma revisão sistemática
Jessica Blythe, Derek Armitage, Georgina Alonso, Donovan Campbell, Ana Carolina Esteves Dias, Graham Epstein, Melissa Marschke, Prateep Nayak (Ocean and Coastal Management, 2020)
Neste estudo, são apresentadas e discutidas as conexões entre o bem-estar social e os serviços ecossistêmicos prestados pelos ecossistemas costeiros. Esta pesquisa utilizou um protocolo de revisão sistemática, garantindo robustez à análise, que incluiu 50 artigos publicados entre 2008 e 2018.
Esta é uma revisão que mostrou: (1) tipos de serviços ecossistêmicos (provisão, regulação/manutenção, culturais) avaliados em estudos publicados; (2) dimensões do bem-estar analisadas; e (3) tendências metodológicas na análise de serviços ecossistêmicos e bem-estar social, especialmente considerando o arcabouço conceitual, coleta de dados, escala espacial e escala temporal. A partir disso, propõe-se uma agenda de elementos que devem ser priorizados numa perspectiva interdisciplinar e com foco em fornecer subsídios para a tomada de decisão.
Os autores elencaram as lacunas e os rumos da pesquisa sobre os serviços ecossistêmicos prestados pelos ecossistemas costeiros. Assim, este artigo é uma referência muito interessante para quem deseja conhecer um pouco mais sobre o assunto, bem como para quem está iniciando sua atividade científica com esse tema. A publicação traça um cenário ainda bastante atual, sendo leitura essencial para direcionar novas pesquisas.
Revisando os Serviços Ecossistêmicos, Bens Sociais e Benefícios das Áreas Marinhas Protegidas
Concepción Marcos, David Díaz, Katharina Fietz, Aitor Forcada, Amanda Ford, José Antonio García-Charton, Raquel Goñi, Philippe Lenfant, Sandra Mallol, David Mouillot, María Pérez-Marcos, Oscar Puebla, Stephanie Manel, Angel Pérez-Ruzafa (Frontiers em Ciências Marinhas, 2021)
A partir do entendimento básico fornecido pelos dois estudos sugeridos acima, podemos passar para um estudo de revisão mais abrangente focado no papel das AMPs (Áreas Marinhas Protegidas) na prestação de serviços ecossistêmicos, bens sociais e benefícios à sociedade. Para tanto, foram avaliadas 268 publicações, entre artigos científicos, livros, relatórios técnicos, teses e literatura cinzenta publicados nos últimos 20 anos. O estudo também considerou evidências obtidas de oito AMPs localizadas no Mediterrâneo ocidental.
Esta pesquisa fornece uma definição e classificação dos efeitos de proteção, serviços ecossistêmicos e benefícios sociais, bem como um modelo conceitual da relação causa-efeito entre os elementos mencionados. Além disso, foram compilados os principais serviços ecossistêmicos prestados pelas AMPs e os benefícios sociais decorrentes, a partir da relação: (1) atributos ou processos preservados, melhorados ou recuperados; (2) produtos ou serviços ecossistêmicos; (3) ações humanas ou benefícios sociais.
Este estudo aparece nesta lista devido ao seu escopo e discussão conceitual. Além disso, o foco no papel das AMPs é importante para destacar como os serviços ambientais (ser humano 🡪 natureza) preservam, restauram e fornecem serviços ecossistêmicos (natureza 🡪 humano) que beneficiam a população em áreas costeiras e marinhas.
Desdobramento de diferenças na distribuição de valores de serviços ecossistêmicos marinhos costeiros entre países desenvolvidos e em desenvolvimento
Nadia Selene Zamboni, Eurico Mesquita Noleto Filho, Adriana Rosa Carvalho (Economia Ecológica, 2021)
Esta pesquisa é de grande importância, pois se concentrou nas distinções associadas ao valor dos serviços ecossistêmicos costeiros disponíveis em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Neste ponto, passamos à valoração econômica dos serviços ecossistêmicos, abordagem de grande relevância para demonstrar, em termos monetários, como a sociedade se beneficia dos ambientes costeiros e oceânicos.
O estudo foi baseado em uma revisão que teve como objetivo identificar os ecossistemas mais valorizados, informar o status de proteção desses ecossistemas, identificar os métodos de valoração econômica mais utilizados, bem como avaliar a relação entre os valores econômicos dos serviços ecossistêmicos e os indicadores socioeconômicos ( PIB e IDH). Foram selecionados um total de 233 artigos publicados de 1980 a 2017, e observou-se que os ecossistemas mais quantificados e valorizados são os manguezais e outros ecossistemas húmidos costeiros (zonas húmidas), sendo a disposição a pagar e o valor de mercado os métodos de avaliação mais utilizados.
Os autores identificaram que os serviços de recreação são mais valorizados na Europa, enquanto a proteção costeira recebe maior atenção em países geralmente afetados por tempestades. Os países em desenvolvimento valorizam mais a prestação de serviços do que os países desenvolvidos. Além disso, foi observada uma relação direta entre os valores econômicos dos serviços ecossistêmicos e o PIB e o IDH.
Esta pesquisa é uma revisão bastante abrangente da valoração econômica dos serviços ecossistêmicos costeiros, e é uma leitura altamente recomendada para aqueles que pretendem trilhar esse caminho.
Fronteiras do conhecimento em ciências marinhas
Paulo da Cunha Lana, Jorge Pablo Castello (Editor da FURG, 2020)
A última sugestão desta breve lista de bibliografia básica trata de um livro que visava apresentar as atuais fronteiras do conhecimento das ciências marinhas. Segundo os organizadores do livro, foi uma “reação à ciência convencional e incremental que ainda é frequentemente praticada em um país em desenvolvimento”. Assim, são apresentados elementos ligados às inovações tecnológicas, bem como novas percepções sobre os benefícios obtidos em ambientes costeiros e oceânicos.
O livro abrange oceanografia óptica e operacional, biotecnologia marinha e genômica, interações mar-atmosfera, formas inovadoras de gerenciar recursos vivos, exploração sustentável de recursos vivos e não vivos e gestão inclusiva e participativa de recursos naturais. A diversidade de temas abordados nos permite avançar por temas pouco explorados nos estudos aqui listados anteriormente.
Esta última sugestão de leitura reforça o desejo dos organizadores de estimular o interesse de novos cientistas pelas ciências marinhas. Assim, encerro esta lista esperando que mais pessoas se interessem pela pesquisa sobre os bens e benefícios que a sociedade pode obter dos ambientes costeiros e oceânicos.
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