Diabetes é a variável que mais impacta no número de mortes por infarto – Jornal da USP

Pesquisadores da USP analisaram o peso de diferentes fatores de risco nas estatísticas de morte por doenças cardiovasculares. Resultados publicados no PLOS ONE mostram que a hiperglicemia representa um risco ainda maior para as mulheres

Infarto/Diabetes – Foto: Freepik – Fotomontagem Jornal da USP

Ricardo Muniz, da Agência Fapesp

Já são conhecidos vários fatores que aumentam o risco de infarto, como glicose alta (hiperglicemia), obesidade, colesterol alto, hipertensão e tabagismo. E agora um estudo publicado na revista PLOS ONE mediu o impacto de cada um deles nas estatísticas de morte por doenças cardiovasculares. A hiperglicemia apresentou associação com esse desfecho cinco a dez vezes maior do que outros fatores.

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Publicado: 28/03/2019

Foram utilizados dados de fontes governamentais, como os Ministérios do Desenvolvimento Social e da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrados entre 2005 e 2017. Os números foram comparados com informações de outros bancos, como o Global Health Data Exchange (GHDx) e o repositório do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington (Estados Unidos).

Usando métodos estatísticos, os pesquisadores determinaram o número de mortes atribuídas a cada fator de risco. O objetivo da pesquisa, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi ajudar a encontrar estratégias mais eficazes para reduzir a incidência de doenças cardiovasculares – que ainda são as maiores causas de morte no país.

“Independentemente do controle que usamos – e testamos diferentes tipos de variáveis, modelos estatísticos e métodos – o diabetes sempre esteve associado à mortalidade por doenças cardiovasculares. Mais do que isso: é uma associação que não se restringiu ao ano analisado, mas durou até uma década”, explica Renato Gaspar, pós-doutorando do Laboratório de Biologia Vascular do Instituto do Coração (InCor), vinculado à Faculdade de Medicina (FM) da USP.

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Publicado: 21/06/2022

Publicado: 29/04/2019

Estudos anteriores estabeleceram uma equação para calcular o número de mortes evitadas ou adiadas devido a mudanças nos fatores de risco. Assim, também foi possível analisar as taxas de óbitos “prematuros”, calculadas em relação à expectativa de vida padrão. Os autores concluíram que cerca de 5.000 pessoas não teriam morrido por doenças cardiovasculares no período analisado se as taxas de diabetes fossem menores na população. Por outro lado, a pesquisa também levou à conclusão de que pelo menos 17 mil mortes foram evitadas apenas com a redução do consumo de cigarros nesses 12 anos.

“Nossas descobertas fornecem evidências de que as estratégias para reduzir o tabagismo foram fundamentais para reduzir a mortalidade por doenças cardiovasculares”, apontam os autores.

Outro ponto que chamou a atenção dos cientistas foram as diferenças de gênero. “As disparidades sexuais ecoam outros estudos que apontam para diabetes e hiperglicemia como fatores de risco mais fortes para doenças cardiovasculares em mulheres do que em homens”, alertam.

Impacto socioeconômico

A mortalidade e a incidência de doenças cardiovasculares diminuíram 21% e 8%, respectivamente, entre 2005 e 2017 no Brasil. Além da redução do tabagismo, o maior acesso à saúde básica é apontado como um dos responsáveis ​​pela melhora dos índices. Essa observação levou em consideração a questão da hipertensão, muitas vezes associada a problemas cardíacos. No entanto, foi responsável por sete vezes menos mortes por doenças cardiovasculares do que a hiperglicemia. Uma das possibilidades é que o acesso ao sistema universal de saúde, com o aumento da cobertura da atenção primária, tenha elevado o índice de controle da hipertensão na população.

Esse achado é corroborado pelo fato de que a associação entre hiperglicemia e mortalidade por doença cardiovascular foi independente do nível socioeconômico e do acesso aos cuidados de saúde. Os pesquisadores inseriram covariáveis ​​nos modelos analisados ​​para contabilizar dados como renda familiar, benefício Bolsa Família, produto interno bruto (PIB) per capita, número de médicos por habitante e cobertura de atenção primária.

Doces – Foto: Pixabay

“Além de aumentar a renda, diminuir a desigualdade e a pobreza e ampliar a qualidade e o acesso à saúde, precisamos olhar para o diabetes e a hiperglicemia de forma específica”, aponta Gaspar, lembrando que o país não tem discutido questões como a alta consumo de açúcar.

“Precisamos de uma política de educação nutricional. Debater se vale a pena colocar um rótulo em produtos açucarados com advertência, como embalagens de cigarros, ou taxar produtos com adição de açúcar para estimular as indústrias a reduzirem esse ingrediente. São questões que são amplamente debatidas em outros países e que precisam ser abordadas aqui.”

Para mitigar os índices de doenças cardiovasculares no Brasil, as políticas de saúde devem ter como objetivo reduzir diretamente a prevalência de hiperglicemia, seja por meio de educação nutricional, restrição de alimentos com adição de açúcar ou maior acesso a novas classes de medicamentos capazes de reduzir a chance de um paciente diabético morrendo de ataque cardíaco.

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. leia o original aqui.

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