Quase três décadas após a erradicação da poliomielite não Brasilo cenário precário de saneamento não país alerta para a possibilidade de um novo surto e reacende o debate sobre a necessidade de imunização contra a doença. No dia 5, o Departamento de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Estado do Pará identificou o vírus da doença após isolamento viral nas fezes da região. – o caso, porém, não significa o retorno da doença.
Por se tratar de um vírus transmitido por via fecal-oral, que circula pelas fezes humanas, as deficiências de saneamento podem facilitar a disseminação da poliomielite, já que quase 100 milhões de brasileiros (45%) não têm acesso à coleta de esgoto e 16% da população não têm acesso à água tratada, segundo o Instituto Trata Brasil. A Região Norte, por exemplo, tem apenas 21,35% de seu esgoto tratado.
Embora menos comum, a poliomielite também pode ser transmitida através de água ou alimentos contaminados. “A ausência de saneamento faz com que haja maior contato com o vírus da poliomielite, seja ao comer alimentos infectados ou brincar em uma vala aberta”, o que favorece a cadeia de transmissão do poliovírus, diz Luana Pretto, que preside o Trata Brasil. organização da sociedade.
Antes da erradicação da pólio, o saneamento era um dos fatores que alimentavam a epidemia no país, quando a precariedade da gestão de água e esgoto, a falta de banheiros e as precárias condições de moradia eram ainda mais graves. O saneamento básico precário é um problema historicamente grave no Brasil, reconhece Luana, e precisa ser repensado por meio de um plano estruturado. “Não é um problema simples de resolver porque exige um grande volume de investimentos que precisam se perpetuar no curto, médio e longo prazo”, afirma.
Hoje, as regiões Norte e Nordeste apresentam as piores condições de saneamento básico, com apenas 30,3% da população nordestina com acesso à rede de esgoto e apenas 13,1% da população nos estados do Norte. De acordo com o ranking Trata Brasil de saneamento básico, apenas 18 municípios entre as 100 maiores cidades do país tratam mais de 80% de seus esgotos.
O cenário é ainda mais preocupante diante da baixa qualidade da vigilância epidemiológica e ambiental no país, alerta Akira Homma, professor emérito da Fiocruz e sênior em Bio-Manguinhos. Segundo ele, as circunstâncias são “terríveis” para a saúde pública, e o Brasil não estaria preparado para lidar com uma nova onda de poliomielite. “Temos uma população altamente vulnerável e desprotegida”, diz. “Espero que não tenhamos um grande volume de pacientes de uma só vez, porque se tivermos teremos hospitais despreparados para lidar com as diferentes doenças que podem ser registradas novamente.”
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Considerada uma doença altamente contagiosa, a pólio foi oficialmente erradicada do Brasil em 1994, após o último caso ter sido registrado em 1989, na Paraíba. Este ano e pela primeira vez em três décadas, o Organização Mundial da Saúde e Unicef emitem alerta vermelho à iminência de um novo surto de poliomielite no país.
O alerta coincide com a queda da cobertura vacinal contra a poliomielite no Brasil, que ficou abaixo da meta de 95% estabelecida pela Ministério da Saúdee com o aumento da probabilidade de transmissão no mundo após as partículas virais da poliomielite foram identificados nos esgotos de cidades como Nova York e Londres, locais de grande circulação nos aeroportos. Soma-se a isso o fato de a doença ainda ser endêmica e não ter sido erradicada em países como Afeganistão, Paquistão e Nigéria.
“Eu costumo dizer que é um iceberg. Essa ameaça de pólio está muito mais próxima do que você pensa. Talvez tenha aparecido lá (nós estados unidos) por terem menor cobertura vacinal há mais tempo. É questão de tempo para começarmos a detectar também o primeiro esgoto contaminado do Brasil”, alerta Danise Senna Oliveira, professora associada de Infectologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Pelotas.
Integrante da Comissão Nacional de Poliomielite do Ministério da Saúde, a pediatra Mônica Tilli é enfática: “A gente nunca vai conseguir parar de vacinar até que a doença seja erradicada mundialmente”. A constatação também é endossada por Akira, que considera que as consequências podem ser terríveis para a saúde pública se não houver aumento da cobertura vacinal. “Precisamos dizer à população que temos que vacinar porque a doença não está erradicada. Isso só acontecerá quando a Organização Mundial da Saúde considerar totalmente erradicada”, diz ela.
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Saiba mais sobre a doença
Poliomielite
Existem três sorotipos de poliovírus: o tipo 1, ainda circulando em países como Afeganistão, Nigéria e Paquistão, e os tipos 2 e 3, que já foram erradicados em todo o mundo.
Como se espalha?
Como uma doença infecciosa, a poliomielite pode ser transmitida através de fezes humanas ou secreções passadas pela boca de pessoas infectadas. Regiões sem tratamento de esgoto adequado são mais suscetíveis à disseminação.
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risco de transmissão
Acomete principalmente crianças de 0 a 5 anos. É uma doença altamente contagiosa e geralmente é assintomática. Apenas 1% da população infantil infectada tem paralisia infantil.
Sintomas
Os sintomas mais leves são febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e dor no corpo, vômitos, diarréia, constipação (constipação), espasmos, rigidez do pescoço e meningite. Casos mais graves causam paralisia infantil, flacidez muscular, manifestações neurológicas graves, impacto na respiração e morte.
sequelas
Os sintomas da poliomielite podem recorrer décadas após a infecção. A síndrome pós-pólio é caracterizada por dores e fraquezas articulares frequentes, membros tortos como resultado de paralisia, escoliose, osteoporose, atrofia muscular, paralisia dos músculos da fala e da deglutição, paralisia de uma perna e hipersensibilidade ao toque.
Fonte: Ministério da Saúde
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