O Google criou o caos para muitos dos jogadores do Stadia. E não digo isso apenas por causa da decisão de matar um serviço que foi vendido como algo revolucionário para o mundo dos videogames. Estou falando das consequências diretas e indiretas dessa decisão, pois são elas que afetam diretamente os consumidores.
Com uma política de marketing nefasta (o produto nem foi comercializado oficialmente no Brasil, e acho que todos nós temos que agradecer por isso) e com uma dura realidade em seus clientes, o Google Stadia está criando naqueles que foram traumas mais profundos do que os possíveis alegrias durante as horas de jogo.
Neste artigo, vamos falar um pouco sobre as consequências dramáticas que o fim do Google Stadia está tendo para quem está sentindo um vazio enorme de jogos via streaming e até no bolso ou cartão de crédito, em alguns casos.
Onde o Google errou com o Stadia?
A Stadia tinha tudo para ditar as regras no segmento de jogos via streaming. Tinha todo o dinheiro do Google, o poder de seus servidores e os parceiros de negócios para alimentar a plataforma com jogos. No entanto, seu fracasso mostra que, na indústria de videogames, basta ter toda a tecnologia anã e que as conexões de internet no Vale do Silício são muito melhores do que a grande maioria dos usuários ao redor do mundo.
O Google não conseguiu desenvolver seus próprios estúdios de jogos para alimentar os títulos Stadia com o menor custo possível. Claro, ter acordos com desenvolvedores de jogos renomados é outro aspecto importante dessa equação, mas não criar sua própria base de jogos pode fazer com que a conta não feche com o tempo.
Além disso, o Google parece não ter medido que a realidade da internet no Vale do Silício é algo muito diferente do que outros internautas têm em suas casas. Posso até ter uma conexão de internet minimamente razoável (e mesmo assim, acho que a Claro deixa muito a desejar nesse aspecto), mas entendo que boa parte da população não tem nem a chance de chegar perto de ter uma conexão que é boa para os jogos.
E isso porque o Google garantiu que o Stadia poderia funcionar com uma conexão mínima, mesmo ao rodar jogos com gráficos pesados. Aqui, a conta também não fechou, e são os usuários que agora sofrem com a decisão da gigante de Mountain View…
…que decidiu “abandonar” todos encerrando o serviço.
As consequências dramáticas da morte do Google Stadia
Não é a primeira vez que uma plataforma de videogame fecha suas portas. Na verdade, isso aconteceu repetidamente ao longo da história. A grande diferença é que, se quem atualmente tem um Super Nintendo guardado no armário em casa e quer jogar Super Mario World na TV de LED, pode fazê-lo sem maiores problemas.
Um cartucho de jogo, CD ou DVD que você comprou é seu para sempre. O mesmo não acontece com uma plataforma de streaming que armazenava jogos em um servidor que será desligado em 18 de janeiro de 2023. Pior: alguns parceiros da Stadia não comentam a possibilidade de migrar jogos e progredir nas partidas para outras plataformas.
E aqui está o desespero que parte o coração de muitos jogadores ao redor do mundo agora.
No início de suas atividades, o Google exigia que os usuários do Stadia investissem seu dinheiro em cada um dos jogos, pagando o mesmo preço do seu homólogo físico. Algo que não fazia muito sentido, pois todos sabem que os custos de produção de um jogo em formato físico são muito maiores do que os envolvidos em sua edição digital.
Isso fica claro para qualquer usuário do Xbox Game Pass, por exemplo. Um dos sucessos do serviço de jogos digitais da Microsoft foi justamente a possibilidade de os gamers adquirirem seus jogos a preços muito mais competitivos. E esta é apenas uma das razões que até justificam a existência da Xbox Series S no mercado.
No caso do Google Stadia, os usuários pagavam o mesmo valor de um jogo físico apenas para ter o direito de usar os títulos, mas não de possuir os jogos. Quando a plataforma de jogos de streaming decidir encerrar suas atividades, os jogos que funcionavam exclusivamente no serviço simplesmente desaparecerão, assim como os títulos adquiridos para funcionar com esse serviço.
Sem falar nas horas e horas dedicadas ao andamento dos jogos dentro da plataforma, o próprio gamepad com Bluetooth coberto pelo Google e outros aspectos técnicos e funcionais que tornam a situação dos usuários do Googel Stadia algo simplesmente dramático e revoltante.
O que acontece a partir de agora?
Algumas perguntas estão em processo de serem respondidas nos próximos dias. Por exemplo, os (poucos) jogos exclusivos do Stadia serão liberados dessa exclusividade pelo Google e poderão ser portados para outras plataformas. Nesse caso, os jogadores terão que procurar o serviço que garantirá totalmente essa migração de dados e, muito provavelmente, investir um pouco mais de dinheiro nele.
Quanto aos jogos não exclusivos pertencentes aos parceiros da Stadia, o cenário é mais complicado. A Ubisoft e a Bungie já anunciaram que estão buscando alternativas para que os usuários possam ativar esses jogos em outras plataformas e sem custo adicional, o que já é uma excelente notícia.
A Ubisoft tem sua própria plataforma de jogos de streaming, UPlay. Mas as demais empresas devem exigir que os usuários passem novamente pelos checkouts para migrar esses dados, seja para jogos no Steam, seja para serviços vinculados às lojas Nintendo, PlayStation ou Xbox.
Resta saber o que acontecerá com o jogadores que passam horas e horas jogando alguns títulos importantes no Stadia. O grande problema aqui está no formato proprietário do Google, o que dificulta até mesmo a portabilidade desses títulos para outros serviços.
A questão do gamepad proprietário pode até ser resolvida de forma mais simples pelo próprio Google. A empresa só precisa eliminar as restrições de Bluetooth originalmente implementadas no acessório, e isso pode ser feito por meio de uma atualização de firmware do produto. Agora, se a limitação for imposta ao hardware, não tem jeito: é melhor jogar esse controlador direto na lixeira.
No final, é importante ter em mente que tudo nesta vida pode chegar ao fim. Incluindo plataformas de streaming. O Stadia tinha tudo para dar certo, mas nem sei se o Google fez o esforço necessário para que isso acontecesse.
É certo que outras plataformas de streaming fecharão mais cedo ou mais tarde, e cabe a todos nós entender que isso vai acontecer e tomar medidas preventivas para evitar as perdas e frustrações que os usuários do Stadia estão vivenciando neste momento. Talvez seja hora de repensar a ideia de não comprar mais cartuchos e discos de DVD com os jogos que você tanto ama.
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