Com baixas taxas de vacinação para os dois públicos-alvo da meningite, a cidade de Natal está em alerta para a doença, segundo análise de interlocutores da Secretaria Municipal de Saúde (SMS Natal). Na cobertura para recém-nascidos, a cobertura para 2022 está em 74,04%, abaixo do ideal, que é de 90%. Para os adolescentes, a situação é ainda mais crítica: 6,4% dos vacinados sozinhos. A pasta planeja expandir a pesquisa ativa para aumentar os índices. Ao todo, são 29.183 crianças e adolescentes somados aos dois públicos só em Natal.

A cobertura vacinal em Natal é de 74%, quando o ideal é 90%. A meningite é perigosa e pode levar à morte.
“É uma capa frágil, não posso dizer que é baixa. A cobertura forte é sempre superior a 90%, pois só temos 10% onde 90% protege o resto. Hoje, com 74,04% contra meningite, acende um alerta de risco, pois temos quase 30% da população liberada dentro de um universo de desproteção. E proteção é quem tomou todas as doses. Nas vacinas com esquema vacinal, a proteção só é dita quando completa. Quando não fecha, fica sensibilizado, mas não protegido”, explica a diretora do Departamento de Vigilância Sanitária da SMS Natal (DVS/SMS), Vaneska Gadelha.
Em Natal, o momento é de atenção com relação à doença, que registrou apenas um caso confirmado entre 9 investigações após 69 notificações. No estado, segundo dados públicos da Secretaria Estadual de Saúde Pública do RN (Sesap), foram confirmados 12 casos.
O debate em torno da doença foi reacendido após um surto de casos em São Paulo, com várias notificações sendo confirmadas e óbitos sendo registrados. Na última quinta-feira (06), um homem de 22 anos morreu vítima de meningite. A capital paulista já contabiliza 10 óbitos e 58 casos.
“Hoje, no nível do Cievs, não estamos recebendo nenhuma notificação imediata de meningite. Mas, pela situação climática e pela sazonalidade da própria bactéria, acaba sendo um período favorável ao seu surgimento”, explica a diretora do Departamento de Vigilância Sanitária da SMS Natal (DVS/SMS), Vaneska Gadelha. “A meningite é uma doença imediata de notificação imediata, pois dependendo da situação, precisamos fazer bloqueio químico com contatos próximos e internação e tratamento dos demais”, acrescentou.
Ainda de acordo com Vaneska, a baixa adesão à vacina contra meningite não é a única no quadro vacinal que está longe dos índices ideais recomendados pelo Ministério da Saúde.
“Um alerta que temos que fazer é que a progressão da cobertura vacinal para menos está sendo gradual a cada ano, ou seja, há uma diminuição da cobertura. Não sei se é uma queda na aceitação ou se são os pais que passaram a viver uma vida tão contemporânea e não visualizam a doença pela causa que os pais acham que não existe e por isso não dão importância” , acrescenta Vaneska Gadelha.
A Secretaria Municipal de Saúde de Natal informou que há vacinas contra meningite disponíveis em todas as salas de vacinação da capital potiguar. Existe o imunizador Meningocócico C, para crianças de 3 a 12 meses (duas doses e reforço) e Meningocócico ACWY, para adolescentes de 11 e 12 anos, uma dose única.
“Para quem atende aos critérios, há vacina para todos e disponível em todas as unidades básicas de saúde, tanto C quanto ACWY”, explica a coordenadora de imunização em Natal, Veruska Ramos.
A cozinheira Jucilene Souza, 39 anos, veio à Unidade Básica de Saúde São João, no Tirol, para vacinar a filha, Maria Clara. Segundo ela, a ideia é evitar que a menininha, de 1 ano e 5 meses, fique doente.
“Vim dar a vacina à minha filha. Ela é alérgica a proteínas do leite e tem que tomar vacinas espaçadas. Hoje foi a meningite e a tríplice viral. Toda mãe tem que vacinar seus filhos, para prevenir as crianças de doenças. Digo isso a todas as mães”, disse ela.
Outra mãe que procurou dar a vacina contra a meningite rapidamente foi a arquiteta Ana Cláudia Filgueira, 49 anos. O pequeno Antônio, de 6 meses, já tomou duas doses da vacina, a última no final de setembro. “Quero proteger meu filho de qualquer vírus, não quero deixá-lo à mercê de nada. Seu caderno está todo atualizado. Só falta a gripe e o MMR”, disse.
Sobre a meningite
A meningite é uma doença grave que causa inflamação das meninges – membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, e pode ser causada por vírus ou bactérias. O risco de contrair meningite é maior em crianças menores de cinco anos, principalmente até 1 (um) ano de idade. No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica. A meningite bacteriana é mais comum no outono-inverno e a meningite viral na primavera-verão.
“Estamos vendo um aumento de casos, mas sem maior gravidade. A tendência é aumentar já que São Paulo está tendo casos, Pernambuco também confirmou, e inevitavelmente chegará aqui. É preocupante. A única prevenção é a vacinação, porque é uma doença com doses disponíveis e sendo imunoprevenível, é preocupante que tenhamos tantos casos que seja possível preveni-la”, informa a pediatra geral do Hospital Infantil Varela Santiago, Raquel Gonçalves.
Brasil
O Brasil já registrou 702 mortes por meningite este ano, segundo dados do Ministério da Saúde. A média de 78 óbitos por mês já é superior à do ano passado, quando foram 793 óbitos ao longo do ano, média mensal de 66. Em 2020, foram 442 óbitos, mas o número foi influenciado pela pandemia de covid-19.
O número de casos das diversas etiologias da doença chegou a 5.800 este ano, ainda abaixo do total de 2021, quando foram 6.800.
A vacinação é considerada a forma mais eficaz de prevenção da meningite bacteriana, mas a cobertura vacinal vem caindo nos últimos anos. A campanha nacional de multivacinação, que inclui vacinas contra outras doenças, terminaria nesta sexta-feira, dia 30, com pouco mais da metade (52,08%) do público-alvo vacinado com meningocócica C. Devido à baixa cobertura, alguns estados estenderam a campanha até 31 de outubro.
O resultado, até agora, é o pior dos últimos cinco anos. No ano passado, a cobertura foi de 70,96%, em 2020 atingiu 78,57% e em 2019, 87,41%. Em 2018, 88,49% do público foi vacinado. A meta recomendada pelo ministério é de 95%.
Ministério da Saúde expandiu público-alvo
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) recomenda a ampliação do público apto a receber a vacina meningocócica C (Conjugado). Desde o início de julho, profissionais de saúde e crianças de até 10 anos podem ser vacinados. O público-alvo será estendido até fevereiro de 2023 e, segundo o Ministério da Saúde, visa proteger a população contra a doença meningocócica sorogrupo C, ampliar a cobertura vacinal e evitar que a doença circule no país.
O imunizador faz parte do Calendário Nacional de Vacinação, sendo indicadas duas doses, aos 3 e 5 meses de idade e um reforço preferencialmente aos 12 meses de idade. De acordo com a nova orientação do Ministério da Saúde, crianças de até 10 anos não vacinadas devem tomar uma dose de meningococo C. Os profissionais de saúde, mesmo com o esquema vacinal completo, podem ser vacinados com mais uma dose.
Embora a faixa etária de maior risco de adoecimento seja as crianças menores de um ano, adolescentes e adultos jovens são os principais responsáveis pela manutenção da circulação da doença.
“Uma das principais medidas de prevenção e controle da doença meningocócica pelo sorogrupo C é a manutenção de altas coberturas vacinais tanto na população infantil quanto na adolescente. A adoção dessa estratégia visa aumentar a proteção contra a doença causada por esse sorogrupo, evitando a ocorrência de surtos, internações, sequelas, tratamentos de reabilitação e óbitos”, afirmou a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Adriana Lucena.
Além da vacina meningocócica C, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina ACWY, destinada a adolescentes entre 11 e 12 anos.
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