Ministérios, polícia e bancos portugueses apanhados em fuga de dados internacionais

Uma fuga de informação em grande escala revelou documentos relacionados com projetos e trabalhadores de Ministérios, polícia, Assembleia da República, bancos, correios e serviços relacionados com o transporte aéreo, entre muitas outras entidades portuguesas que ainda não foram contabilizadas. O vazamento de informações foi divulgado nesta quarta-feira pela empresa de segurança cibernética SOCRadar – e já foi confirmado pela Microsoft internacionalmente. A empresa de cibersegurança admite que ainda fará mais revelações em breve.

O Expresso confirmou que, entre as entidades portuguesas afetadas pela divulgação de dados e documentos, estão a Presidência do Conselho de Ministros, a Assembleia da República, o Ministério da Defesa, o Estado-Maior General das Forças Armadas, a Secretaria-Geral da Ministério da Administração, Ministério da Saúde, Ministério da Defesa, PSP e GNR, Operador Nºs, ANA, Autoridade Nacional de Aviação Civil, PJ, BPI, Caixa Geral de Depósitos, Millennium BCP e CTT.

A exposição de dados pode ser especialmente grave, pois revela informações pessoais sobre pessoas com cargos considerados cruciais em várias entidades e, eventualmente, abre caminho para um possível acesso indevido a serviços que a Microsoft fornece em todo o mundo.

A origem desse vazamento de dados é um potencial erro na gestão da plataforma Azure, que disponibiliza às empresas diversos recursos tecnológicos para hospedagem de software e armazenamento de dados. O Azure é uma plataforma gerenciada pela Microsoft. O vazamento de dados, que foi apelidado de BlueBleed, envolve 65.000 entidades de 111 países.

“O SOCRadar detectou que esses dados “sensíveis” de 65.000 entidades se tornaram públicos devido a um servidor mal configurado”, começa por informar o SOCRadar em comunicado.

“O vazamento do BlueBleed inclui dados críticos, como detalhes do projeto, documentos assinados do cliente e dados e e-mails do cliente. Os dados expostos, se manipulados para esse fim, podem fornecer aos cibercriminosos a capacidade de projetar ataques contra empresas afetadas pelo BlueBleed”, disse Huzeyfe Onal, CEO da SOCradar, em comunicado.

A Microsoft também reagiu ao vazamento de informações, confirmando que o vazamento de dados foi devido a uma configuração incorreta de equipamentos usados ​​na plataforma Azure.

“A configuração incorreta resultou em potencial acesso não autenticado a alguns dados correspondentes a transações comerciais e interações entre a Microsoft e potenciais clientes, bem como planos relacionados à potencial implementação e disponibilidade de serviços da Microsoft”, explica a marca de tecnologias.

A Microsoft também informa que foi avisada pelo SOCRadar em 24 de setembro, mas também acusa a empresa de segurança cibernética de exagerar os números ao alertar dados para o BlueBleed.

“Nossa investigação e análise mais detalhadas dos dados mostram duplicação de informações, com várias referências aos mesmos e-mails, projetos e usuários”, diz um comunicado da Microsoft sobre o vazamento de dados do BlueBleed em geral.

Pesquisas suspensas temporariamente

A troca de argumentos pode não parar no futuro próximo: a SOCRadar já deu a conhecer que esta divulgação de dados deverá ter mais episódios. Na página que a empresa de cibersegurança disponibiliza para as empresas verificarem se foram afetadas pelo ataque, há também um aviso que informa que, a pedido da Microsoft, a SOCRadar concordou em suspender temporariamente as pesquisas através de um módulo que poderá fornecer dados mais detalhados sobre potenciais vítimas de BlueBleed.

A Microsoft responde que alertou os clientes que foram afetados pela fuga de informação, mas repudia o facto de a SOCRadar ter lançado uma ferramenta que permite saber, através da inserção de endereços de Internet de diferentes organizações, quais são as potenciais vítimas da extração de dados.

A amargura entre as duas empresas não está longe do padrão de relacionamento que se estabelece entre marcas que prestam serviços em escala global e marcas que alertam para perigos em escala global. Além de dados críticos para o gerenciamento dos serviços operados a partir da Internet, o vazamento de dados pode eventualmente expor informações pessoais dos responsáveis ​​pela contratação desses serviços.
“Não está claro quais informações podem existir sobre essas entidades (afetadas pelo BlueBleed). Pode ser apenas uma troca de e-mails comerciais ou há informações mais detalhadas sobre projetos”, explica Jorge Pinto, presidente da Associação dos Profissionais de Segurança da Informação (AP2SI), sem esquecer que o BlueBleed não é uma vulnerabilidade tecnológica, mas um vazamento de informações .

O especialista em cibersegurança recomenda ainda que as várias entidades nacionais “validam no site SOCRadar se foram afetadas” pelo BlueBleed. “Em caso afirmativo, entre em contato com a Microsoft para saber quais informações foram divulgadas. Só de posse desta informação poderão atuar e preparar melhor a resposta a esta crise, caso seja necessário”, conclui o presidente da AP2SI.

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