A nutrição tem sua importância na saúde do corpo como um todo. Entre as pessoas que vivem com HIV, a nutrição afeta a qualidade de vida, prevenindo outras doenças como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, entre outras. Além disso, ajuda a melhorar os efeitos colaterais ou preveni-los, como dislipidemia, glicemia elevada, anemia, etc. Sabemos também que um indivíduo com ingestão e absorção adequada de nutrientes tem uma melhora no sistema imunológico. Um intestino com uma microbiota saudável está relacionado a um sistema imunológico e saúde mental equilibrados. Diante de tamanha importância, traremos aqui algumas dicas relacionadas à alimentação.
Vamos começar com a saúde intestinal. Afinal, não adianta comer alimentos saudáveis se o intestino não estiver absorvendo os nutrientes de forma adequada. Dentro do nosso intestino existem vários microrganismos que compõem a nossa microbiota intestinal. Quando nossa dieta é composta por alimentos processados com alto teor de açúcar, ocorre um desequilíbrio da microbiota, ativando o sistema imunológico e gerando reações inflamatórias, causando uma série de reações que também desequilibram a produção de neurotransmissores no cérebro. Portanto, a saúde intestinal está intimamente ligada à saúde mental. Vivemos em regime de cooperação com nossa microbiota. Por isso, precisamos ajudar a mantê-lo em equilíbrio, evitando alimentos industrializados com alto teor de açúcar e incluindo os chamados probióticos e prebióticos.
Entre eles estão:
• Fibras – presentes em frutas, verduras, legumes e grãos integrais como pães integrais, aveia, chia, etc. São os “alimentos” das bactérias.
• Alimentos fermentados – como iogurtes, kefir, leites fermentados. Esses alimentos contêm microrganismos que compõem nossa microbiota. Outro ponto importante a ser observado é o uso de alguns suplementos e fitoterápicos. Erva de São João ou Hypericum (Hypericum perfurado) diminui a concentração plasmática de antirretrovirais do tipo inibidor de protease (atazanavir, darunavir, lopinavir + ritonavir, ritonavir). O suplemento de óleo de alho também pode comprometer a absorção de inibidores de protease. Por isso é sempre importante conversar com seu médico antes de começar a usar qualquer suplemento, pois ele pode ter alguma interação com sua medicação.
Uma das preocupações de quem inicia o tratamento são os possíveis efeitos colaterais, que muitas vezes não aparecem ou podem durar por um curto período de tempo. Entre eles estão diarreia, náusea, vômito, dislipidemia, anemia, entre outros. Aqui estão algumas orientações nutricionais para cada efeito:
• Colesterol alto: reduzir alimentos ricos em gorduras saturadas e trans, como carne bovina gordurosa, bacon, leite integral e seus derivados, manteiga, creme de leite, além de dendê, salgadinhos, sorvetes, biscoitos, frituras, margarina, manteiga, etc. Consumo de aveia pode ser interessante, pois ajuda a diminuir o colesterol.
• Triglicerídeos ou glicose elevados: diminuir o consumo de alimentos ricos em carboidratos simples e açúcar, como doces, pães e massas e substituí-los por alimentos integrais.
• Insuficiência renal ou hepática: controle do consumo de proteínas. Nesse caso, é interessante consultar um nutricionista para a elaboração de um plano alimentar específico.
• Alterações no metabolismo ósseo: prática de exercícios físicos; ingestão adequada de cálcio e vitamina D e exposição solar.
• Anemia: aumentar o consumo de carnes, principalmente vermelhas; vísceras como fígado, rim e coração; ovos. E para os vegetarianos, vegetais verde-escuros, leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico…) consumir preferencialmente junto com alimentos que sejam fontes de vitamina C (laranja, acerola, goiaba, kiwi, entre outros.
• Nausea e vomito: fazer pequenas refeições, várias vezes ao dia; consumir alimentos mais secos, como bolachas, água e sal; prefira alimentos frios ou em temperatura ambiente; realizar as refeições em ambiente arejado; evitar beber líquidos durante as refeições; não deitar após as refeições; chupar gelo.
• Diarréia: Alguns alimentos podem causar diarreia em pessoas mais sensíveis, como leite, doces em grande quantidade, feijão, alimentos gordurosos como frituras ou gorduras animais; evitar alimentos crus e fibras; fazer pequenas refeições; faça uso de soro caseiro, soro de reidratação oral, isotônico ou água de coco.
Ao mudar sua dieta, é importante observar algumas coisas:
• É um processo – cada mudança de hábito leva tempo. Nossas papilas gustativas, responsáveis pelo nosso paladar, são substituídas a cada 10 dias, aproximadamente. Isso significa que após esse período suas papilas gustativas estarão acostumadas com a mudança, seja a redução de açúcar ou qualquer outra mudança na dieta.
• Você é “8 ou 80” – ou você está de dieta ou “coloca o pé na jaca”. Busque o equilíbrio, nem dietas restritivas nem “chutar o balde”. Se você quer ter resultados duradouros, foque na reeducação alimentar, ao invés de “dietas da moda”, estas, em geral, são muito restritivas e dificilmente você consegue manter por períodos mais longos, gerando o efeito “sanfona”. Além disso, muitas vezes são dietas que não cobrem todos os nutrientes necessários para nossa saúde.
• Eventos sociais fazem parte da vida – mesmo se você estiver procurando por uma mudança na dieta, não deixe de participar desses eventos. Almoços em família ou encontros com amigos são importantes para nossa saúde mental e para a manutenção de vínculos afetivos. Se houver alguns excessos alimentares, respire fundo e volte ao equilíbrio. Não caia na ideia do “já que”, “já que estou fora da dieta, vou chutar o balde”. Pelo contrário, na próxima refeição volte a sua alimentação saudável, o próprio corpo sentirá essa necessidade.
Você sabe olhar para o rótulo e fazer boas escolhas? Vou listar algumas dicas na hora de analisar o rótulo e fazer melhores escolhas na hora de fazer compras no supermercado.
• Menos é mais; ou seja, quanto menos ingredientes no rótulo, melhor. Evite alimentos que contenham uma lista interminável de ingredientes, muitos dos quais são até desconhecidos.
• Ordem decrescente; Para quem não sabe, a lista de ingredientes está em ordem decrescente. Isso significa que o primeiro item é aquele presente no alimento em maior quantidade. Então, se o primeiro ingrediente é o açúcar, por exemplo, sabemos que ele é encontrado em maior quantidade nesse alimento, não sendo uma escolha muito saudável.
• Nomes estranhos; evite alimentos que contenham ingredientes com nomes complicados que você nem sabe o que são. Por exemplo, maltodextrina (um tipo de açúcar simples). Acidulantes, emulsionantes, aromatizantes, conservantes seguidos de códigos, etc.
• Ao escolher o pão, preste atenção à lista de ingredientes. Costuma-se dizer que são grãos integrais, no entanto, ao olhar para os ingredientes, eles contêm farinha branca. Outra dica é testar algumas marcas e avaliar. A marca que lhe dá mais saciedade é provavelmente aquela com maior teor de fibra e é a melhor escolha neste caso.
• Preste atenção nas porções; Ao olhar para a tabela nutricional, observe o tamanho da porção. Normalmente, no topo da tabela está escrito, por exemplo, “porção de 45g correspondente a três biscoitos”. Isso significa que as quantidades na tabela, sejam calorias, gordura, sódio, entre outras, referem-se a essa porção, não ao pacote inteiro. Então, se a porção for 45g e a embalagem tiver 90, as quantidades de nutrientes para a embalagem inteira são o dobro, o dobro de calorias, o dobro de sódio, gordura…
• Cuidado com a gordura trans; muitos alimentos usam o seguinte ditado “zero gordura trans” como marketing. Desconfie, se a lista de ingredientes tiver “gordura vegetal hidrogenada”, “gordura hidrogenada”, “gordura vegetal”, certamente contém gordura trans. Acontece que muitas vezes eles arredondam para zero na tabela nutricional, naquela porção descrita. Porém, se a porção for, por exemplo, 3 biscoitos e você for comer 9 biscoitos, esse 0,5g de gordura trans é multiplicado por três, chegando a 1,5g. A maioria dos produtos industrializados contém gordura trans em sua composição.
Lembre-se de que estas são diretrizes gerais, não substituem uma consulta. Afinal, apenas uma consulta individual é capaz de ajudar de forma mais específica.
* Camila Jonas é nutricionista e especialista em HIV/AIDS, também criadora da página posithiva_mente no Instagram.
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