“O terceiro câncer eu descobri me tocando”, diz mulher em terceiro tratamento contra o câncer

Foto: Gabriela Vasconcellos | 1ª Residência em Jornalismo na Rede Vitória
“Nunca vi o câncer como algo ruim, porque só me trazia benefícios”, diz Rosana, que enfrenta o câncer pela terceira vez.

A arteterapeuta Rozana Cenachi traz na bagagem uma história repleta de lutas e vitórias contra Câncer. Ao longo de seus 42 anos de idade, ele enfrentou a doença duas vezes. Atualmente, ela está em uma nova luta: está em seu terceiro tratamento contra o câncer.

Apesar de receber a notícia mais de duas vezes, Rozana diz que os diagnósticos não a deixaram desesperada.

“Cada diagnóstico não era sem esperança, era como o primeiro. Nunca senti aquele desespero, tristeza profunda ou depressão. Nunca vi o câncer como algo ruim, porque só me trazia benefícios”.

Foi uma das participantes e modelo do projeto “Você é Única”, criado pelo cabeleireiro Dirceu Paigel. O objetivo é promover uma interação entre mulheres que venceram e lutam contra o câncer. Na ocasião, as mulheres passaram por um dia de beleza e até participaram de uma sessão de fotos.

as descobertas

O primeiro câncer foi descoberto em 2018. Primeiro, um furúnculo apareceu no braço esquerdo, depois uma mancha e um nódulo apareceram no seio. Percebendo essas mudanças em seu corpo, Rozana foi ao médico, fez exames e teve que fazer uma biópsia que confirmou seu câncer de mama.

Em 2020, durante o acompanhamento médico, a arteterapeuta descobriu que a doença havia migrado para outra parte do corpo. Desta vez, o pescoço. Agora, em 2022, outro tumor abaixo da clavícula foi descoberto.

Atualmente, Rozana continua com o tratamento do câncer, quimioterapia e continua superando essa outra etapa. Apesar das dificuldades, ela não se abala. “É um recomeço de vida. Estou dirigindo muito bem, o câncer não afetou meu psicológico, graças a Deus. Consegui ressignificar todas as etapas do processo”, disse.

arte como terapia

A arte chegou à vida de Rozana em 2018. Foi quando ela conheceu uma ONG chamada Associação de Apoio ao Combate ao Câncer (AACC), que trabalha com mulheres em tratamento para a doença e oferece aulas de artesanato.

“Eu não tinha vocação, não sabia fazer nada, lá aprendi a fazer boneca e me apaixonei. Hoje faço essas bonecas para dar de presente e vender. em destaque.

Durante seu envolvimento com o artesanato, conheceu o Centro de Experiência Casa Rosa onde começou a estudar arteterapia. É um espaço voltado para a inclusão produtiva por meio do desenvolvimento de atividades e práticas integrativas para pacientes no SEUS no tratamento do câncer.

“Meu envolvimento com a arte foi meu remédio com essas práticas complementares e o artesanato foi algo que me sustentou. Claro, primeiro Deus, minha fé, meu marido e a arte”conta.

Respeite minha cicatriz

Por amor e dedicação ao artesanato, Rozana criou seu próprio projeto, o “Respeite minha cicatriz“. A ação visa conscientizar e empoderar as mulheres em tratamento, além de informar a sociedade para acabar com o preconceito.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Por trás de uma cicatriz, há histórias de dor e superação e ela veio em forma de arte para trazer mais leveza. Quando vejo esse coração, minha cicatriz, vejo que é apenas uma cicatriz que passou, o período de dor passou“, ele explicou.

para auto-estima

Um dos desafios durante o tratamento do câncer para uma mulher é manter sua autoestima em dia. No entanto, a quimioterapia nunca afetou Rozana negativamente e nem mesmo sua relação afetiva com o marido.

“Gosto até de careca. Para mim, a careca, o peito e o pescoço cortado, nada disso me afetou. A única coisa que me afeta são as reações da quimioterapia. ao contrário, me sinto linda careca careca ou não, meu marido diz que sou linda, se meu marido me acha bonita e eu acho que sou também”.

Segundo ela, o apoio do marido desde o início de todos os tratamentos foi fundamental e a ajudou a continuar confiante.

“Quando o parceiro te ama, te aceita do jeito que você é com duas deformações físicas, fica melhor, porque ele te valoriza e você acaba se valorizando. É um casamento tanto dele quanto meu”, ressaltou.

Apoio da família

Natural do Estado do Pará, Rozana veio para Espírito Santo realizar exames em busca do primeiro diagnóstico. Ela diz que sua cidade natal não tem recursos suficientes para o tratamento.

E dentro de tantos desafios, isso foi exatamente o que mais a abalou. Sabendo que teria que ficar longe de suas irmãs e familiares, afinal sua mãe não está mais viva. “Foi a pior sensação que tive no diagnóstico”, disse ela.

“Não foi uma sentença de morte, o chão não abriu, não tive essas reações. A única reação triste que tive foi ficar longe da minha família, porque sou paraense”, revelou.

A arteterapeuta lembra que recebeu muito apoio. Amigos e parentes fizeram uma campanha virtual. “Pessoas paraenses, colocando turbante na cabeça e me mandando fotos. Me senti muito acolhida por todos, não tinha como me sentir diferente, sempre reagi bem aos diagnósticos”, disse.

A vida continua: lutas diárias e muito aprendizado

Durante esses anos lutando contra o câncer, Rozana sempre permaneceu corajosa e determinada. O sorriso no rosto é uma de suas armas para vencer sempre. Ela afirma que toda a sua vida mudou após os diagnósticos.

O que eu trago para a minha vida é muito aprendizado. Aprendendo em todos os sentidos. Não que tenha mudado meu caráter, mas me ensinou a ser melhor. Melhor no sentido de me valorizar mais, viver mais intensamente, viver o hoje, estudar, conhecer, principalmente adquirir conhecimento, esse é o meu foco“, afirmou.

Um de seus desejos é mostrar tudo o que aprendeu. Poder compartilhar o conhecimento e o acolhimento vivenciados durante os tratamentos e que ainda recebem nas associações. Por isso, ela se interessou em estudar mais.

“Fui procurar estudar para passar para as mulheres o que recebi. Vejo o quanto as mulheres precisam de um abraço, de um carinho e tudo o que tenho passado só me trouxe aprendizado”, disse.

Por toda sua experiência, Rozana assessora, apoia e participa de projetos como Outubro Rosa passar mais informações a todas as mulheres. Diante disso, o arteterapeuta valoriza o autoexame.

Levante o braço e faça o autoexame, toque-se, toque o pescoço, a virilha, o seio, toque tudo, porque um dos cânceres eu descobri assim. Meu terceiro câncer, me encontrei tocando“, revelou.

*Texto de Gabriela Vasconcellos, estudante de Jornalismo da 1ª Residência da Rede Vitória, sob orientação da editora Ana Carolina Monteiro

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