Orlistat: Entenda como funciona e os riscos do medicamento – 21/10/2022 – Equilíbrio

Conhecido por reduzir a absorção de gordura no intestino, o orlistato é usado no tratamento de obesidade. A droga, no entanto, oferece perda de peso modesta. Portanto, de acordo com especialistas, é mais útil se combinado com mudanças no estilo de vida e outras terapias. Os médicos também apontam como benefícios a melhora da glicemia e do colesterol.

Já um antigo aliado nos tratamentos para perda de peso, o medicamento voltou a despertar interesse. As plataformas de monitoramento registraram um aumento na busca por informações sobre o medicamento. Questões como a necessidade ou não de prescrição médica e valores são algumas das dúvidas.

Embora você não precise de receita médica para comprar o medicamento, os especialistas recomendam o uso do orlistat apenas com a orientação de um profissional especializado. Seu preço para um tratamento mensal pode variar em torno de R$ 90 a R$ 150.

Segundo Cintia Cercato, endocrinologista e presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), o medicamento inibe a ação das lipases, enzimas que participam do processo de digestão das gorduras.

“Quando comemos gordura, ela precisa ser decomposta em pedaços menores para ser absorvida. Ela é decomposta por essas lipases intestinais”, diz Cercato.

Ainda segundo o endocrinologista, quando o medicamento inibe a ação dessas enzimas, a gordura não é decomposta em moléculas menores, o que dificulta sua absorção e faz com que parte dela seja eliminada junto com as fezes.

Segundo especialistas, o medicamento é capaz de reduzir em 30% a absorção de gordura, o que pode levar à perda de peso, mas de forma reduzida.

Cercato diz que o resultado modesto se deve ao mecanismo de ação do medicamento, já que, diferentemente de outros medicamentos usados ​​no tratamento da obesidade, o orlistato não atua na regulação do apetite.

“A obesidade é uma doença complexa que se caracteriza por alterações na regulação desse balanço energético da fome e da saciedade. O fato desse medicamento não agir sobre esses mecanismos torna seu resultado modesto”, ressalta.

O profissional destaca que, como qualquer medicamento para tratar a obesidade, o orlistat é indicado para pacientes classificados como obesos, com IMC (índice de massa corporal) maior ou igual a 30, ou com sobrepeso (IMC de 25 a 29,9), e que apresentam alguma comorbidade relacionada à doença. Além disso, o uso de medicamentos para tratar a obesidade deve estar associado a mudanças no estilo de vida, Educação nutricional e a realização de exercícios físicos, base desse tipo de tratamento.

Cercato alerta que o orlistato pode interferir na absorção de vitaminas lipossolúveis importantes para o organismo, como as vitaminas A e D. Além disso, pode alterar o efeito de alguns medicamentos, como os anticoagulantes, e piorar os sintomas de pacientes com doença intestinal problemas. Por isso, embora não seja necessária a prescrição, o médico reforça que o medicamento precisa ser administrado sob a orientação de um especialista.

O endocrinologista Márcio Mancini, vice-presidente do departamento de obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e chefe do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), diz que o medicamento foi feito para ser associado a uma dieta adequada.

“Como o orlistato reduz a absorção de um terço da gordura da dieta, se o indivíduo comer uma feijoada e tomar o remédio, a quantidade de gordura que chegará ao final do intestino será muito grande. O indivíduo perde o controle e tem que correr para o banheiro”, exemplifica.

Mancini diz que o remédio precisa ser tomado com as principais refeições do dia. Portanto, o paciente deve ter um hábito alimentar organizado. “Este é um medicamento que deve ser tomado na refeição em que fará efeito. É tomado no café da manhã, almoço e jantar.”

O especialista também ressalta que o orlistato é indicado para tratar a obesidade, não pela simples redução de medidas. “Para usar a droga, o paciente tem que estar no mínimo acima do peso”, diz.

Segundo o médico, estudos mostram que, além da modesta redução de peso, o medicamento tem impacto na glicose e no colesterol.

“Há um estudo interessante chamado Xendos, que administrou orlistat em pacientes com glicose normal e um grupo que teve glicose levemente alterada e acompanhou esses pacientes por 4 anos. Aqueles que tomaram o medicamento desenvolveram menos diabetes, mostrando um benefício em relação à glicose”, diz ela.

“Outro estudo com pacientes com colesterol alto mostrou uma redução de 17,6% no colesterol ruim.”

Vanessa Prado, coloproctologista e médica do Centro de Especialidades do Aparelho Digestivo do Hospital Nove de Julho, conta que o medicamento não faz mal ao organismo e também é usado para tratar constipação. O médico diz que pode, no entanto, causar incontinência fecal, efeito que pode ser controlado através da dosagem.

“Como impede a absorção de gordura, o cocô fica extremamente amolecido e cheio dela. Muitas vezes o paciente não consegue segurar porque são fezes mais lisas”, ressalta Prado.

Segundo ela, a medicação pode ser usada por 6 a 9 meses para compor um tratamento inicial voltado para a constipação, mas o ideal é apostar na formação de um bolo fecal rico em fibras e no uso de procinéticos, medicamentos que auxiliam na o movimento do intestino, para melhorar a evacuação.

O endocrinologista Cercato reforça que o orlistato é um bom auxiliar no tratamento da obesidade, mas que não pode ser visto como uma solução única.

“A obesidade é uma doença extremamente complexa que tem muitos mecanismos envolvidos. O tratamento de uma doença complexa também é complexo, não é simples.”

Be the first to comment

Leave a Reply

Your email address will not be published.


*