Outubro Rosa: histórias além do diagnóstico

  • TEXTO Alessandro Fernandes
  • FOTOGRAFIA Angiola Harry
  • DADOS: 14/10/2022

O Outubro Rosa é especialmente dedicado à conscientização e conscientização sobre a prevenção e diagnóstico do câncer de mama. É comum que uma doença tão difícil e dolorosa possa trazer diferentes emoções e sentimentos, por isso convidamos você, leitor e leitora, a conhecer histórias de pessoas que estão além das estatísticas.


Ninguém quer ficar doente. Acima de tudo, ninguém quer receber um diagnóstico de câncer durante a vida. Mas não é tão simples assim, sabemos o quão vulneráveis ​​podemos ser e quão imprevisível é o futuro. Entender isso não é ser pessimista, mas aceitar o fato de que somos seres humanos e que precisamos cuidar da nossa saúde de perto.

O Outubro Rosa – surgiu na década de 1990 nos Estados Unidos para conscientizar sobre a prevenção e o diagnóstico do câncer de mama – se expandiu para vários países do mundo e é uma das mais importantes campanhas de saúde no Brasil. A campanha alerta para a importância do diagnóstico precoce e, principalmente, estimula uma vida saudável para construir um ambiente de prevenção.

Hoje, a doença é o tipo de câncer mais comum em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de novos casos estimados no ano de 2020. No Brasil, foram previstos 59,7 mil novos casos da doença em 2018, o que a torna tão comum na vida de muitas mulheres . O câncer de mama também atinge os homens, mas é raro, representando apenas 1% de todos os casos da doença, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Como lidar com o medo, a angústia e as dificuldades daquele momento? Como buscar apoio emocional e apoio para trilhar esse caminho que certamente mudará sua vida? Como apoiar amigos, familiares e colegas de trabalho que estão passando por esse processo? Carinho, companheirismo, empatia e rede de cuidado podem ser boas respostas para isso..

É comum que uma doença tão difícil e dolorosa possa trazer diferentes emoções e sentimentos, por isso convidamos você, leitor e leitora, a conhecer histórias de pessoas que estão além das estatísticas.

O tratamento que virou filme

Ariane Porto é daquelas pessoas que não param. Ela foi entrevistada no dia seguinte a um evento sobre seu documentário enquanto viajava para o aeroporto para chegar a tempo de um voo programado para a Itália. Mas a vida da antropóloga e professora parou quando ela de repente descobriu que tinha câncer de mama em estágio inicial.

Após os primeiros exames, conversas com médicos, outros especialistas e o processo de aceitação e compartilhamento do diagnóstico com seu círculo social, Ariane decidiu que não só tentaria passar por esse processo de forma reflexiva, mas também começou a filmar todo o tratamento.as alegrias e dores, esperanças e medos, tudo registrado em vídeo.

Foi um processo necessário e vital. Quando comecei a intuir que tinha um problema maior, resolvi gravar, talvez vire filme, talvez não, não sei se vou chegar até o fim“, diz a professora. Ela conta que foi um momento muito particular de sua vida e que gostaria de registrá-lo, independente do desfecho, como uma ferramenta para lembrar as dificuldades, pontos fortes e momentos de alegria pelos quais ela também passou durante o tratamento.

“Quando o médico tirou um fragmento da biópsia, eu falei ‘para, preciso ver esse fragmento, porque é uma parte de mim que eu não vou ver mais‘”, lembra o antropólogo. Ariane conta que foi um momento para caminhar com seus medos, se colocar na frente do espelho e entender a realidade na qual estava inserida. “Ou eu olho para isso ou não serei capaz de enfrentá-lo”, diz ela.

Dessa experiência surgiu o documentário minha mamãe, produzida de forma autoral e que é um relato autobiográfico de seu tratamento contra o câncer de mama. O filme, que foi selecionado para o festival Ecocine, pode ser visto na plataforma vai jogar de graça e é uma ótima programação para este Outubro Rosa.

O filme Mama Minha teve um impacto muito positivo em pessoas em tratamento, profissionais de saúde, entre outros”, diz Ariane. A presença de uma narrativa como essa proporciona o contato direto com alguém que passou por um tratamento como esse, além das implicações e mudanças na vida familiar, social e laboral.

Quando fazia radioterapia, Ariane lembra que fez amizade com um grupo de mulheres e juntas formaram “radioativas”, compartilhando suas histórias e buscando momentos de partilha, descontração e que fugissem da rotina de tratamento e conversas hospitalares. Daí surgiu a necessidade de ouvir outras histórias, outras mulheres que passam pela mesma situação e que buscam apoio e apoio juntas.

“Nós criamos Ouvidos para essas múltiplas vozes. E outra coisa que a Mama Nossa me trouxe é que algumas coisas a gente não pode mudar, por exemplo, você não pode mudar um diagnóstico, mas você pode mudar a situação que o paciente com câncer ocupa na sociedade hoje”, conclui a professora.

O filme Mama Nossa reúne um grupo de mulheres que fizeram tratamento contra o câncer de mama e também está disponível na plataforma de streaming de graça.

Ariane porto veste uma blusa verde, cabelos grisalhos curtos, ao fundo algumas árvores e uma cachoeira.  Outubro Rosa

Ariane Porto é antropóloga, professora, pós-doutora em Comunicação e Artes e educomunicadora, além de ter produzido os filmes Mama Minha e Mama Nossa. Foto: arquivo pessoal

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Bruna Lauer cresceu no campo, formou-se publicitária, casou-se e em sua vida não parecia haver muitas tribulações até precisar passar por um tratamento de seis meses após uma grave infecção na coluna. Aquele momento trouxe uma série de mudanças em sua vida.seu casamento acabou, ela começou a se conectar com o Yoga e os cuidados com a saúde cresceram ainda mais.

Era impensável que, depois de todos os hábitos saudáveis ​​que Bruna havia adotado em sua vida, algum outro problema de saúde viesse a visitar seu corpo. “Eu estava em casa, na sala, assistindo TV quando me senti [o nódulo]mas na época eu nem imaginava que era câncer de mama, na minha cabeça era como se eu estivesse protegida de alguma doença”, lembra a escritora.

Apesar do susto, a busca por profissionais foi feita com rapidez, a realização de exames, o agendamento de cirurgias e também as decisões sobre seu futuro. “As pessoas tinham medo que eu morresse ou achavam que eu sofreria muito“, lembra ele, que tenta tirar o estigma que existe sobre o câncer e critica a ausência de debates em torno do assunto. “É importante tirar da cabeça das pessoas aquela ideia que elas tinham sobre o câncerou que você tem, porque temos uma palavra para muitas doenças”, enfatiza Bruna, que defende mais ações como as do Outubro Rosa.

Ao contrário do que se poderia esperar ao receber um diagnóstico desse tipo, Bruna Lauer procurou lidar com a situação de forma otimista, ou pelo menos conseguiu ocupar a mente com bons momentos e outras experiências além do tratamento e dos efeitos colaterais dos medicamentos. em seu corpo. “Eu estava super vivo, amei ainda mais minha vida, vi mais significado“, ele adiciona.

Além de manter esse espírito positivo ao longo de seu trabalho, Bruna encontrou uma forma de se conectar com amigos e familiares preocupados com sua situação.

Todos os dias, ou a maioria deles, a escritora compartilhou momentos, experiências, avanços no tratamento e novas informações sobre como seu câncer estava agindo no corpo. “Percebi que minha história poderia ajudar as pessoas”, diz ela.

Foi a partir daí que a ideia do livro, uma oitava acimaum relato pessoal de seu tratamento, das mudanças ocorridas em sua vida e das dificuldades que enfrentou nessa jornada.

Revisitar toda a dor é complexo, é preciso ter coragem, para que faça sentido e se conecte com as pessoas”, diz. E não foram poucas as dores, sua vida virou de cabeça para baixo, desde o fim do casamento, passando pela infecção na coluna, o diagnóstico do câncer de mama, a pandemia de Covid-19 e a morte da mãe – também por câncer. -, implicando uma série de mudanças com efeitos profundos em sua vida.

Escrever o livro – que está com desconto no mês de outubro Rosa –, segundo ela, foi uma forma de curar esse ciclo dos últimos anos, de fechar uma ferida, de entender os benefícios e as experiências traumáticas que aconteceram com seu tratamento. Hoje, ela mora com o companheiro na zona rural da cidade de Monteiro Lobato, interior de São Paulo, organiza experiências no campo a partir da arte e passou a compreender as múltiplas dinâmicas que ocorreram dentro dela.

Quando a dor nos atinge

Karla Felmanas, vice-presidente da Cimed, sabe o que é vivenciar a dor e o processo de seguir um tratamento de câncer de mama na vida de quem amamos. A empresária perdeu a mãe há mais de 10 anos para a doença e relembrar esses momentos é um misto de dor, saudade e memórias familiares que ficaram eternizadas.

“Nós negociamos com amortentando levar a ela toda energia positiva e força, proporcionando momentos felizes com sua família, os netos que ela tanto amava ter com ela”, lembra a executiva.

Fizemos muitas viagens e nos esforçamos para fazê-la feliz. Minha mãe é um eterno exemplo de coragem para mim e para toda a nossa família.. Durante os anos de tratamento estávamos mais unidos do que nunca, procurei trazer para ela toda a energia, carinho e presença para ajudá-la a enfrentar a situação da forma menos dolorosa possível”, completa Karla.

O diagnóstico de câncer de mama não só mudou a vida da mãe de Karla, mas de toda a família, incluindo a percepções sobre a existência humana e as incertezas que podem surgir ao longo dela. Para a empresária, esse momento resultou na necessidade de viva intensamente e aproveite os momentos especiais com as pessoas que amamos: “A vida é todo dia e quando tomamos consciência disso, entendemos o real sentido da vida, porque estamos aqui. Sinto a presença dela comigo sempre, temos uma ligação muito forte”, enfatiza.

Hoje, Karla usa suas redes sociais para divulgar informações sobre diagnóstico, tratamento e prevenção, além de sua vivência familiar como forma de conscientizar e sensibilizar outras mulheres, principalmente durante o Outubro Rosa. “Para mim é uma nova descoberta que estou amando, muitas trocas e aprendizados, novas conexões e possibilidades. Explorar novos potenciais e nos desafiar é muito bom, nos mantém vivos e em movimento.”

Além dos cuidados preventivos expostos pelo executivo, como a atividade física, aumento da imunidade, exames regulares e práticas de bem-estardestaca a importância de abordar o assunto com empatia, respeitando a história de vida de cada um e suas necessidades. Neste Outubro Rosa, Karla conclui que “todas as pessoas querem se sentir acolhidas e amadas na vida, se essa pessoa traz amor, carinho, palavras e gestos de conforto, pode não curar o câncer, mas cura a alma”.


ALESSANDRO FERNANDES é estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará e estagiária do Vida Simples. Natural do Rio Grande do Norte, acredita no veganismo popular como uma das ferramentas de transformação da sociedade e no potencial da escrita e do jornalismo para tocar as pessoas.

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