Pandemia impacta a saúde mental de estudantes de medicina – Geral

Pandemia afeta a saúde mental de estudantes de medicina
(Foto: Fabio Pozzebom/Agência Brasil)

Além da saúde mental da população em geral, a pandemia de covid-19 tem impactado as condições de profissionais de saúde e estudantes de medicina. O debate sobre o tema é importante pela alta prevalência de transtornos mentais que esses grupos apresentam, disse a psiquiatra Grasiela Marcon hoje (8) ao participar do 39º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, promovido pela Associação Brasileira de Psiquiatria, em Fortaleza ( 8). PBL)

Segundo o médico, as tentativas de suicídio dos colegas representam um desafio na profissão.

Segundo Grasiela, desde 2017 existe uma preocupação com os resultados relacionados à saúde mental. A partir daquele ano, veículos nacionais e internacionais voltados para o tema passaram a se preocupar com as possibilidades de suicídio.

Um dos casos relatados foi o de uma estudante de medicina de uma universidade americana que, na fase final de seu curso, acabou se matando ao pular de seu dormitório. “Foi uma comoção e levantou a questão relevante de que o suicídio acontece e muitas vezes acontece mais perto do que você imagina.”

O trágico acontecimento levou à adoção de medidas para prevenir tais situações, disse o psiquiatra. Centros de apoio psicológico e psiquiátrico começaram a se espalhar pelo Campos universitários após a morte do estudante, e os professores perceberam que, após as intervenções, os índices de suicídio ou tentativa de suicídio na instituição caíram.

Uma pesquisa realizada antes da pandemia com 130 mil estudantes de 47 países revelou uma prevalência de 11% de manifestações psíquicas nessa população, e 15,7% procuraram atendimento psiquiátrico. Foi encontrada uma prevalência de sintomas depressivos de quase 30%. “A maioria dos alunos não procura ajuda, e isso vale para os médicos também”, destacou Grasiela.

Também no Brasil, desde 2017, a Universidade de São Paulo (USP) registrou seis tentativas de suicídio entre estudantes de medicina, tendência que acabou sendo verificada em outras universidades. Um estudo feito na época encontrou prevalência de depressão de 30% entre os estudantes de medicina, prevalência de ansiedade de quase 33%, má qualidade do sono e sonolência matinal que acometeram quase metade dos estudantes cada.

Em 2019, em uma dissertação de mestrado, Grasiela tentou entender quais estudantes de medicina eram suicidas e encontrou uma prevalência de quase 9% em uma amostra de cerca de 5.000 estudantes que já haviam tentado suicídio. Entre os fatores de risco nessa população estão a homossexualidade, bissexualidade, baixa renda, trauma na infância ou na vida adulta, bullying universitário, história familiar de tentativa de suicídio ou suicídio consumado, uso diário de tabaco e consumo excessivo de álcool.

Existem também fatores de vulnerabilidade. Entre as dificuldades encontradas estão idade precoce, dependência financeira da família, saída da casa dos pais, distanciamento da família, solidão, diferenças culturais, maior exposição a estressores, como demandas acadêmicas. Grasiela destacou que 90% dos pacientes que tentam suicídio têm comorbidades psiquiátricas não tratadas ou tratadas incorretamente.

No início da pandemia de covid-19, o isolamento social teve impacto na saúde mental da população em geral e também dos estudantes de medicina. O fato foi agravado pela própria doença, pelo adoecimento de familiares e pela morte de parentes e amigos. O ponto positivo foi no aprendizado. Do grupo de 41 alunos que participaram do experimento, 37,9% apresentaram prevalência de depressão e 33,7% de ansiedade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 25% dos sintomas depressivos e ansiosos aumentaram durante o período de pandemia e pós-pandemia.

Um estudo realizado no Brasil constatou que 62% da massa de estudantes de medicina estavam passando por procedimentos psíquicos, 55% acabaram relatando perda de interesse, quase 40% se sentiram inúteis, quase 20% se sentiram incapazes de desempenhar um papel útil na vida e 9% mostraram tendências suicidas.

Na população médica, pesquisa realizada na fase pré-pandemia, na China, em 2020, publicada na revista Lancet, revelou que 46% dos médicos apresentavam sintomas de depressão grave; 41%, sinais de ansiedade e 70%, sintomas moderados a graves. Para prevenir o suicídio tanto entre estudantes de medicina quanto entre profissionais mais velhos, o psiquiatra disse que é preciso identificar precocemente os sintomas e oferecer assistência em relação a isso. Um dos fatores que afetam os profissionais é a aposentadoria futura, disse Grasiela.

Entre as motivações encontradas em 200 médicos que cometeram suicídio nos Estados Unidos durante a pandemia, o médico citou a incapacidade de trabalhar diante da deterioração da saúde, uso de substâncias químicas, conflitos de relacionamento, estresse financeiro, questões trabalhistas e institucionais.
Segundo Grasiela, a saída para garantir a saúde mental é buscar o equilíbrio, equilibrando as dificuldades com os momentos prazerosos, para que o médico exerça sua profissão com perfeição, ética, mas também com saúde.

*O repórter viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria

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