Nas últimas semanas, uma série de campanhas nas redes sociais, principalmente no Twitter, lideradas por figuras proeminentes da esquerda, tem pautado os debates online não apenas na bolha progressista, mas também na bolha bolsonarista.
A primeira campanha começou logo após o fim do primeiro turno, em que se tentou associar o candidato Jair Bolsonaro (PL) à maçonaria e ao satanismo. Em 4 de outubro, os termos FREEMASONRY e FREEMASON foram citados mais de 1 milhão de vezes no Twitter. Segundo análise do analista de redes sociais Pedro Barciela, a campanha ocupou mais espaço por 48 horas do que a contra-defesa dos bolsonaristas.
Análise de Pedro Barciela sobre a associação de Bolsonaro com a Maçonaria.
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A segunda campanha seguiu logo depois, em 5 de outubro, e tentou associar Bolsonaro a práticas canibais após um vídeo do candidato dizendo que cometeria canibalismo viralizou no Twitter ocupando os Trending Topics (tópicos mais comentados) o dia todo. A terceira e mais recente campanha fez da hashtag “Bolsonaro é pedófilo” uma das mais compartilhadas no Twitter no dia 15 de outubro. A campanha reagiu a uma declaração do candidato Bolsonaro de que “pintou um clima” entre ele e meninas venezuelanas de 14 e 15 anos em entrevista para um podcast.
Nos dois casos, decisões do TSE impediram a veiculação de campanhas petistas sobre os temas.
Brasil não é Twitter
Embora as campanhas online com esses temas dominem os debates no Twitter, muito se questiona sobre o real impacto dessas campanhas e se elas realmente atingem um eleitorado além da plataforma. Essa tem sido uma crítica que tenho reforçado: “O Twitter não é o Brasil. O Brasil não está no Twitter”.
No ranking de usuários brasileiros ativos nas redes sociais, o Twitter ocupar apenas 9º lugar com 19 milhões de usuários, e é liderado pelo WhatsApp com 165 milhões de usuários.
É justamente nos aplicativos de mensagens que é possível ter uma ideia melhor se as campanhas do Twitter realmente atingiram o eleitorado de Bolsonaro. O WhatsApp é encontra em 99% dos celulares do Brasil e o Telegram está em 65%, e é nessas plataformas que os bolsonaristas se manifestam de forma mais orgânica em seus grupos. Segundo análise da consultoria Palver, pela primeira vez desde o início da campanha, os “Ataques contra Bolsonaro” superaram os “Ataques contra Lula” no WhatsApp.
A esquerda conseguiu ditar a agenda dos debates “online”.
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Nos 122 grupos bolsonaristas do Telegram que acompanho no Sentinela Eleitoralo termo “maçonaria”, que costumava ser citado entre 2 e 5 vezes por dia, foi citado em mais de 600 mensagens.
Aumento de citações ao termo “maçonaria” no Telegram.
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Por sua vez, a campanha que tentou associar Bolsonaro ao canibalismo não chegou ao Telegrama bolsonarista da mesma forma que a “maçonaria” – mas é possível dizer que também chegou a esses círculos.
Nos últimos 10 dias, o termo “canibal” ou “canibalismo” não foi mencionado nenhuma ou uma vez ao dia. No dia 5 de outubro, foram 20 vezes.
Citações para o termo “canibalismo” e “canibal” no Telegram.
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“pedofilia”
A campanha que ligava Bolsonaro à pedofilia atingiu os 122 grupos bolsonaristas no Telegram. Isso porque o tema da pedofilia sempre foi uma arma para os bolsonaristas acusarem e demonizarem seus adversários – ou seja, é um assunto que sempre é discutido nesses espaços.
No dia 12 de outubro, Dia da Criança, muito se debateu sobre o caso em que a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, sem provas, comentou sobre o tráfico de crianças no Marajó: foram 206 mensagens em 122 grupos ampliando os comentários do futuro senador, em claro apoio à matéria – sobre a qual o Ministério Público pediu esclarecimentos, aliás.
Nos dias 15 e 16 e hoje, o tom mudou.
Houve uma intensa tentativa de criar uma narrativa para justificar a fala de Bolsonaro: foram 126 mensagens. O que mais circulou foi um tweet atribuído a Flávio Bolsonaro tentando amenizar a fala do pai, acusando a esquerda de fake news ao associar o termo “pintou um clima” à pedofilia.
Aumento das menções ao caso de adolescentes venezuelanos.
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Tweet atribuído a Flávio Bolsonaro.
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Analisando esses dados do WhatsApp e Telegram, é possível afirmar que as campanhas anti-Bolsonaro no Twitter também orientaram os grupos bolsonaristas, ou seja, foram além de uma plataforma mais exclusiva, que é o Twitter, e dominaram o debate nas plataformas mais populares como WhatsApp e Telegram.
Com isso, cria-se a expectativa de que tais campanhas tenham potencial para arrancar votos dos apoiadores do presidente. No entanto, como analisei várias mensagens desses grupos reagindo às campanhas, o tom foi defensivo – ou seja, um movimento intenso de produção de conteúdo para defender seu candidato Jair Bolsonaro e não houve manifestação de mudança de voto. Isso fica evidente nas últimas pesquisas de intenção de voto no 2º turno, onde Lula caiu de 1% para 52% e Bolsonaro subiu de 1% para 48% dos votos válidos.
No entanto, um dos efeitos que tais campanhas têm nos grupos bolsonaristas, assim como no Twitter, é que, ao orientar o debate nos espaços bolsonaristas, seus apoiadores se ocupam em defender o presidente ao invés de investir esforços e tempo para controlar o debate e promover ataques. aos seus adversários, bem como às campanhas pró-Bolsonaro.
Outro efeito possível é, pela intensidade e ocupação das campanhas anti-Bolsonaro nas redes, desencorajar sua base de sair de casa e votar em Bolsonaro. Estudos mostrar que campanhas que minam a credibilidade de um candidato tendem a desmotivar sua base.
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Relatório da agência públicapublicado originalmente em 21 de outubro de 2022. A Polygraph tem um acordo de republicação com o Agência publica que é uma das mídias de maior prestígio no Brasil. A grafia original foi respeitada.
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