postado em 03/10/2022 06:00

(Crédito: Reprodução do site MIT News)
Indivíduos com Parkinson precisam ir a consultas médicas regularmente para acompanhar o curso da doença degenerativa — caracterizada por complicações como tremores, rigidez muscular, distúrbios da fala e lentidão de movimentos. Cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, estão trabalhando na criação de um dispositivo que possa facilitar esse processo e melhorar as avaliações profissionais. Semelhante a um roteador Wi-Fi, o equipamento pode monitorar o paciente sem precisar sair de casa, transmitindo informações sobre a velocidade de caminhada.
A base da solução médica é um roteador criado no laboratório de Dina Katabi com o objetivo de analisar a radiação eletromagnética que sai de uma pessoa enquanto ela está em movimento. A equipe incluiu inteligência artificial (IA) para que pudesse ser usada para rastrear pessoas com Parkinson. “O dispositivo permitirá que um especialista cuide desses pacientes remotamente e fornecerá informações suficientes sobre o estado da doença e o impacto dos medicamentos”, enfatiza Katabi, autor sênior do estudo, publicado na revista Science Translational Medicine.
De acordo com a matéria, o sensor pode ser fixado na parede de uma residência e funciona como um radar de baixa potência — uma frequência menor do que a propagada por um dispositivo Wi-Fi, por exemplo. Como resultado, não interfere com outros dispositivos eletrônicos que estão próximos. O dispositivo capta constantemente ondas de rádio que refletem em um indivíduo enquanto ele se move. Esse tipo de onda atravessa paredes e objetos sólidos, mas isso não acontece com os humanos devido à presença de água no corpo. Como as ondas de rádio se propagam na mesma velocidade que uma pessoa viaja, o tempo que leva para os sinais refletirem de volta ao roteador indica a velocidade da marcha.
Joceli Mayer, professora do Departamento de Engenharia Elétrica e Eletrônica do Centro Tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), conta ao Correio que o uso da IA é um destaque do aparelho. O treinamento em inteligência artificial foi realizado observando vários casos em inúmeros pacientes e, por meio disso, é possível determinar, por exemplo, se a pessoa está tendo uma progressão positiva ou negativa da doença.”
O algoritmo de aprendizado de máquina também permite a identificação precisa dos sinais refletidos no paciente, mesmo que haja outras pessoas circulando pela casa, segundo os criadores. Além disso, o dispositivo coleta enormes quantidades de dados. Para Mayer, uma das maiores vantagens do projeto é a possibilidade de monitoramento remoto e à distância. “Achei o trabalho interessante, pois não exige que o paciente carregue nenhum equipamento próximo ao corpo”, diz.
lentidão
Testes com o aparelho envolvem 50 voluntários, 34 com Parkinson e 16 sem a doença. A primeira fase contou com 20 pessoas e durou oito semanas. Os demais participantes fazem parte de um estudo longitudinal, em andamento, que terá duração de dois anos. Na etapa concluída, a equipe obteve mais de 200.000 medidas individuais de velocidade de caminhada. Ao avaliar os dados, o grupo concluiu que os voluntários com Parkinson eram cerca de 23% mais lentos na caminhada, quando comparados ao grupo controle. Para a equipe, os resultados indicam que a tecnologia funciona como um eficiente marcador de gravidade e progressão da doença.
Amauri Araújo Godinho, neurologista e neurocirurgião do Hospital Santa Lúcia, unidade de Brasília, também acredita que a abordagem é promissora. “O que fizemos por observação, por grupo de estudo, por relato de paciente ou por vídeo, pode ser feito sem nos preocuparmos com variações externas, pois o aparelho estará monitorando tudo”, justifica.
Segundo o médico, na avaliação tradicional, quando são testadas as condições motoras e cognitivas, existe o risco de variações na interpretação. O paciente pode estar, por exemplo, cansado devido ao deslocamento até a clínica. O dispositivo do MIT poderia ajudar a evitar essas distorções. “Não será necessário agendar um retorno presencial, o algoritmo que vai analisar como ele está evoluindo, para que quando ele começar a piorar, o computador alerte e nós, profissionais, possamos tomar providências.”
medicamentos
Os dados fornecidos pelo equipamento também podem ajudar a avaliar o efeito dos medicamentos prescritos. Isso porque os pesquisadores notaram que as flutuações ao longo do dia na velocidade de marcha dos voluntários correspondiam à forma como eles estavam respondendo à medicação.
A coautora do estudo, Yingcheng Liu, indica que a opção mais utilizada para realizar esse tipo de acompanhamento, embora básica, pode ser um desafio para pacientes e familiares. “Antes, isso era quase impossível de fazer, porque esse efeito da medicação só podia ser medido fazendo com que o paciente mantivesse um diário”.
Godinho explica que quando uma pessoa com Parkinson inicia o tratamento medicamentoso, os sintomas costumam melhorar bastante. Porém, com o passar do tempo, é comum que o medicamento diminua seus efeitos, e a alternativa é aumentar a dose e, consequentemente, os efeitos colaterais.
O médico brasileiro acredita que o aparelho pode ser eficaz no manejo desses percalços. “Por exemplo, o paciente está tomando remédio pela manhã. Por volta das 18h, ele começa a tremer novamente. Aí, talvez, tenhamos que ajustar a dose ou administrar um remédio de efeito mais prolongado”, ilustra.
A solução médica começa a chegar ao mercado. “O dispositivo é acessível para prestadores de serviços de saúde e empresas farmacêuticas e de biotecnologia. Mas ainda não está disponível diretamente para os consumidores”, diz Katabi. Além disso, o sistema não está isolado do monitoramento de Parkinson. O cientista conta que tem sido usado em pesquisas para diversas doenças neurológicas, como Alzheimer, Crohn e síndromes de Rett. Sua equipe também está trabalhando em um projeto para usar a solução tecnológica para detectar a doença de Parkinson a partir dos padrões respiratórios de uma pessoa durante o sono. (MLG)
*Estagiária sob supervisão de Carmen Souza
Concentre-se também no efeito dos medicamentos
Os dados fornecidos pelo equipamento criado pela equipe do Massachusetts Institute of Technology (MIT) para monitorar pessoas com Parkinson também podem ajudar a avaliar o efeito dos medicamentos prescritos. Isso porque os pesquisadores notaram que as flutuações intradiárias na velocidade da marcha dos voluntários correspondiam a quão bem eles estavam respondendo à medicação.
A coautora do estudo, Yingcheng Liu, indica que a opção mais utilizada para realizar esse tipo de acompanhamento, embora básica, pode ser um desafio para pacientes e familiares. “Antes, isso era quase impossível de fazer, porque esse efeito da medicação só podia ser medido fazendo o paciente manter um diário”, diz “Nosso trabalho mostra que o aparelho pode acompanhar a resposta da medicação”, enfatiza Dina Katabi, principal autora estudar.
O médico Amauri Araújo Godinho explica que, quando uma pessoa com Parkinson inicia o tratamento medicamentoso, os sintomas costumam melhorar bastante. Porém, com o passar do tempo, é comum que o medicamento diminua seus efeitos, e a alternativa é aumentar a dose e, consequentemente, os efeitos colaterais.
O neurologista e neurocirurgião do Hospital Santa Lúcia, unidade de Brasília, acredita que o aparelho pode ser eficaz no manejo desses percalços. “Por exemplo, o paciente está tomando medicação pela manhã. Às seis horas da tarde, ele começou a tremer novamente. Então talvez tenhamos que ajustar a dose ou administrar um medicamento com efeito mais prolongado”, ilustra.
A solução médica começa a chegar ao mercado. “O dispositivo é acessível para prestadores de serviços de saúde e empresas farmacêuticas e de biotecnologia. Mas ainda não está disponível diretamente para os consumidores”, diz Katabi. Além disso, o sistema não está isolado do monitoramento de Parkinson. O cientista conta que tem sido usado em pesquisas para diversas doenças neurológicas, como Alzheimer, Crohn e síndromes de Rett. Sua equipe também está trabalhando em um projeto para usar a solução tecnológica para detectar a doença de Parkinson a partir dos padrões respiratórios de uma pessoa durante o sono. (MLG)
Leave a Reply